quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Há microplástico nos alimentos, no sal, no ar e na água. Saiba como ele surge, mude hábitos e previna-se

Você pode não ver, mas ele está lá e não se sabe ainda quais implicações pode causar para a saúde humana


Que o plástico está presente em nosso cotidiano todo mundo sabe, é só olhar para celulares, roupas, computadores, embalagens de alimentos, potes de cosméticos, seringas médicas, equipamentos de engenharia, embalagens de remédios, sinalizadores de trânsito, enfeites, glitter... E essa lista poderia seguir por linhas e linhas.

Mas o que nem todo mundo imagina é que os microplásticos também estão presentes no ar que respiramos, em alimentos como no sal ou na cerveja e até na água que bebemos: cerca de 83% da água de torneira do mundo inteiro está contaminada com microplástico.

Da sola do sapato ao ar que respiramos, não há dúvidas, há plástico em todo canto. Ilhas se transformam em depósito de lixo plástico, assim como terrenos e calçadas. Em 2050, o oceano poderá conter mais peso em plásticos do que peixes. A dúvida é saber se estamos no Antropoceno (a Era da Humanidade) ou na Era do Plástico.

Mas é verdade que os diversos tipos de plástico têm nos libertado e ajudado de muitas formas. Entretanto, assim como há prós, há contras em relação à utilização desse material.

E os contras estão relacionados a problemas de saúde gerados na produção, no contato com o plástico no dia a dia e nas perdas para o ambiente, incluindo o caso de descarte incorreto, que acaba sendo uma das fontes de contaminação de lençóis freáticos, ar, plantas e animais.

Você não vê, mas ele está lá

E o perigo maior é quando o plástico se fragmenta em pequenos pedaços, formando microplástico, que é invisível a olho nu.

Tóxicos

O microplástico, quando presente no ambiente, atua como captador de poluentes orgânicos persistentes (POPs) altamente nocivos. Dentre esses poluentes estão os PCBs, os pesticidas organoclorados, o DDE e o nonifenol.

O POPs são tóxicos e estão diretamente ligados a disfunções hormonais, imunológicas, neurológicas e reprodutivas. Eles ficam durante muito tempo no ambiente e, uma vez ingeridos, têm a capacidade de se fixarem na gordura do corpo, no sangue e nos fluidos corporais de animais e humanos.

Cadeia Alimentar

Ingerir microplástico contaminado não é muito difícil, uma vez que, desde o final da II Guerra Mundial, eles já estão contaminando o ambiente e fazem parte da cadeia alimentar.

Na Indonésia, trabalhadores da pesca já estão consumindo mexilhões contendo microplástico em seus organismos. E não é somente na Indonésia, no Reino Unido e na Austrália os mexilhões também estão contaminados por microplástico. Quem come frutos do mar regularmente ingere cerca de 11 mil pedaços de microplástico por ano.

Bisfenóis

Os bisfenóis, utilizados em larga escala pela indústria, estão presentes em tintas, resinas, latas, embalagens e materiais de plástico em geral. Quando escapam para o ambiente, além da poluição visual e física que causam, há a poluição química. Uma vez no ambiente e em nossos corpos, o bisfenol se comporta como um disruptor endócrino, podendo causar esterilização em animais, problemas comportamentais, diminuição da população, entre outros.

Risco para a vida animal

Quando o microplástico contendo bisfenol vai parar no ambiente, ele pode causar reduções em populações de golfinhos, baleias, veados e furões, prejudicar o desenvolvimento de ovos de aves, causar deformidades sexuais em répteis e peixes, alterações na metamorfose de anfíbios e muitos outros danos.

Prejuízos à saúde humana

Os alimentos embalados por recipientes contendo bisfenol se contaminam e, ao alimentarmo-nos destes alimentos, ingerimos também o bisfenol, cujo consumo está, comprovadamente, associado a diabetes, síndrome dos ovários policísticos, cânceres, infertilidade, doenças cardíacas, fibromas uterinos, abortos, endometriose, déficit de atenção, entre muitas outras doenças.
Mas como ele vai para o ambiente?

Na lavagem das roupas


Parte significativa das roupas são compostas por fibras têxteis sintéticas de plástico; um exemplo é o próprio poliéster. Durante a lavagem de roupas, por meio do choque mecânico, o microplástico se desprende e acaba sendo enviado para esgotos, indo parar em corpos hídricos e no ambiente.


No ar


As mesmas fibras têxteis de plástico também vão parar no ar. Um estudo de 2015, realizado em Paris, na França, estimou que, a cada ano, cerca de três a dez toneladas de fibras plásticas atingem as superfícies das cidades. Uma das explicações é que apenas o atrito de um membro com o outro vestido por roupas de fibras têxteis sintéticas plásticas já seria o suficiente para dispersar o microplásticona atmosfera. Essa poeira de microplástico pode ser inalada, juntar-se ao vapor e ir parar na sua xícara de café e no seu prato de comida, por exemplo.


No atrito dos pneus


Os pneus de carros, caminhões e outros veículos são feitos de um tipo de plástico chamado estireno butadieno. Ao passarem pelas ruas, o atrito desses pneus com o asfalto gera emissão de 20 gramas de microplástico a cada 100 quilômetros percorridos. Para se ter uma ideia, na Noruega, é emitido um quilo de microplástico de pneu por ano por pessoa.


Tintas látex e acrílicas

Estudos mostraram que a tinta utilizada em casas, veículos terrestres e navios, desprende-se destes por meio de intempéries e vai parar no oceano, formando uma camada bloqueadora de microplástico na superfície oceânica.

A isto, podemos acrescentar as tintas látex e acrílicas utilizadas em artesanatos e os pincéis lavados nas pias.


Microesferas dos cosméticos



Sabonetes, cremes, pastas, géis e máscaras esfoliantes são um perigo para o ambiente. Esses produtos compõem microplástico de polietileno que, após o uso, é despejado diretamente pela torneira na rede de esgoto... Mesmo quando há estações de tratamento, muitas delas não estão aptas a realizarem a filtragem de partículas tão pequenas.

Nurdles




Nurdles são pequenas bolinhas plásticas utilizadas na manufatura de vários itens plásticos. Ao contrário dos resíduos plásticos que se decompõem até se tornarem microplástico, os nurdles são feitos já com um tamanho reduzido (cerca de 5 mm de diâmetro). Eles são a maneira mais econômica de transferir grandes quantidades de plástico para fabricantes de uso final do material em todo o mundo. O problema é que navios e trens despejam acidentalmente essas bolinhas em estradas ou no mar; ou a parte que sobra da produção não é tratada adequadamente. Se alguns milhares de nurdles caem no mar ou numa rodovia, é praticamente impossível fazer a limpeza. Em uma pesquisa realizada no início de 2017, foram encontrados nurdlesem 75% das praias do Reino Unido.

Material semelhante aos nurdles são os pellets, feitos da mesma maneira mas em formato cilíndrico. Os pellets vão parar no ambiente devido a perdas no transporte e contaminam corpos hídricos, solo e animais.

Descarte incorreto


Durante o ano, pelo menos oito milhões de toneladas de lixo de resíduos de plástico que foram descartados incorretamente vão parar nos oceanos, lagos e rios do mundo todo.

Esses descartes, se fossem encaminhados corretamente para a reciclagem, poderiam voltar para a cadeia energética, mas uma vez no oceano, fragmentam-se em microplástico e acabam entrando na cadeia alimentar, inclusive humana.

Cada canudo, sacola, tampa, rótulo, embalagem descartados incorretamente se quebrarão e formarão microplástico. O plástico não desaparece, só fica menor.

Canudinhos


Todos os dias, um bilhão de canudinhos são descartados diariamente. Só no Estados Unidos, meio milhão de canudinhos são jogados fora diariamente.

Quando vão parar no ambiente (mesmo quando descartados em aterros podem ser levados pelo vento), esses canudinhos, antes de virarem microplástico, acabam indo parar no organismo de animais, até nas narinas de tartarugas.

O que fazer?
  • O primeiro passo é diminuir o consumo de plástico na medida do possível.
  • Troque sua escova de dentes de plástico por uma de bambu.
  • No lugar de tecidos de fibra sintética, utilize algodão orgânico. Confira outras "Dicas para ter uma pegada ambientalmente correta com as suas roupas".
  • Quando comprar alimentos, cosméticos, e produtos em geral, prefira aqueles que venham em embalagens de vidro.
  • Reutilize! Pratique upcycle, uma maneira de reinventar objetos.
  • Tome cuidado com a reutilização de garrafinhas d'água, veja o porquê em nossa matéria "Perigos de reutilizar sua garrifinha de água" - utilize garrafas não descartáveis para transportar sua água.
  • Zere o consumo de itens de plástico supérfluos, como, por exemplo, canudinhos.
  • Pegue e dê carona. Cada carro a mais é sinônimo de mais microplástico no ar e na água.
  • Zere o consumo de cosméticos com esfoliantes sintéticos; substitua-os por receitas naturais. Confira 6 receitas de esfoliantes caseiros.
  • Repense seu consumo e o que você pode fazer para reduzir o plástico presente na sua vida.
  • Dê prioridade aos bioplásticos. Conheça o plástico verde, o plástico PLA e o plástico de amido.
  • Descarte corretamente e encaminhe para reciclagem. Confira quais são os postos de coleta mais próximos de sua residência. Confira também nossa matéria "O que é reciclagem e como ela surgiu?".
  • Conheça a New Plastics Economy. Tendo em vista que 95% do valor do plástico é perdido por mau uso, a iniciativa New Plastic Economy, aplicando os princípios da economia circular, visa reunir setores importantes do ramo do plástico para a repensar e reformular o futuro dos plásticos, começando pela embalagem.
  • Pressione empresas e governos para que garantam o retorno do plástico à cadeia de produção, afinal de contas, nem todo plástico reciclável destinado corretamente é efetivamente reciclado.
FONTE: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/5914-microplastico-microplastico-poluiasao-o-que-sao-microplasticos-microesferas-cosmeticos-nos-oceanos-no-mar.html

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