segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Os perigos de reutilizar sua garrafinha de água

Mesmo sendo um hábito ambientalmente correto, reutilizar garrafa de água pode trazer danos à sua saúde


Garrafas de plástico são um grande problema ambiental. Elas são feitas do petróleo, que é uma fonte não renovável, requerem energia para sua produção e distribuição, e acabam contaminando o meio ambiente devido ao fato de grande parte delas não ser direcionada à reciclagem. Ou seja, o destino final acaba sendo lixões, aterros e mares, com péssimas consequências ambientais.

Pensando assim, já que eu utilizei uma garrafa de água, por que não reabastecê-la e usá-la novamente? Afinal, não seria necessária a energia para sua reciclagem e nem poluiria o meio ambiente, certo?

Primeiramente, se você pensa assim, parabéns! O mundo precisa de mais pessoas como você (mas não esqueça que você deve evitar o hábito de comprar a garrafa - há outras opções, como veremos adiante). No entanto, infelizmente essa não é uma solução muito boa para esse problema. Essas garrafas de plástico não são próprias para serem reutilizadas, tanto é que até mesmo seus fabricantes recomendam seu descarte após o uso.

Um dos principais problemas da reutilização dessas garrafas é a contaminação bacteriana. Afinal, as garrafas são um ambiente úmido, fechado e com grande contato com a boca e com as mãos, ou seja, um local perfeito para as bactérias se procriarem. Um estudo realizado a partir de 75 amostras de água das garrafas que alunos do ensino básico utilizaram durante meses, sem jamais as lavarem, descobriu que cerca de dois terços das amostras apresentavam níveis bacterianos acima dos padrões recomendados. A quantidade de coliformes fecais (bactérias provenientes das fezes dos mamíferos) foram identificadas acima do limite recomendado em dez amostras das 75 estudadas. As garrafas não lavadas funcionam como criadouro perfeito de bactérias, afirma Cathy Ryan, uma das responsáveis pelo estudo.



Ah! Então, sem problemas, basta eu lavar minha garrafa d'água que não tem erro!:)

Bem, existe outro problema relacionado a essas garrafas: é o Bisfenol A (BPA), um composto utilizado na produção de plásticos e resinas, que é encontrado principalmente nos plásticos que são fabricados com policarbonato, com o símbolo de reciclagem 7 na embalagem. Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, nos EUA, colocou um grupo de pessoas utilizando garrafas plásticas com esse material por uma semana e encontrou um aumento dos níveis de BPA na urina em cerca de 60%. Outro estudo da Universidade de Cincinnati descobriu que ao lavar as garrafas com água quente, o processo de lixiviação foi acelerado, ou seja, o BPA se desprendia mais facilmente do material plástico.

As garrafas com símbolo de reciclagem 1 na embalagem (as PET) também apresentam problemas, posto que podem contaminar a água com outras substâncias de desregulação endócrina e químicos estrogênicos que causam problemas hormonais, como foi identificado por um estudo de 2010.


Opções

Procure garrafas de vidro ou de aço inoxidável para reutilizar, pois, além de ajudar o meio ambiente ao eliminar a necessidade de grandes quantidades de garrafas plásticas, você também estará evitando problemas de saúde. Caso você queira ou realmente precise de uma garrafa de plástico, as mais recomendadas são as de polipropileno, que geralmente possuem uma aparência branca. Um cuidado necessário com todos os tipos de garrafas é o fato de mantê-las limpas a fim de minimizar a contaminação bacteriana, lavá-las e permitir que elas sequem antes de seu reúso.

Quanto às garrafas plásticas, procure realizar sua reciclagem de forma correta, mas evite-as ao máximo.Verifique qual o tipo de plástico ela é feita, facilitando assim o seu descarte seletivo. Descubra o ponto de coleta desse material mais próximo de sua casa.



quarta-feira, 25 de outubro de 2017

'Abalou minha fé na humanidade': foto de rinoceronte morto para roubo de chifre vence concurso


Brent Stirton diz que o que ele viu "abalou sua fé na humanidade".

Uma imagem chocante de um crime ambiental foi a vencedora da competição de Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano, conferido anualmente pelo Museu de História Natural de Londres.

Registrada pelo sul-africano Brent Stirton, a foto retrata o corpo caído de um rinoceronte negro na Reserva Hluhluwe Imfolozi, em seu país.

Caçadores clandestinos mataram o animal à noite com um silenciador e arrancaram o seu chifre.

Stirton tirou a foto como parte de uma investigação sobre o comércio ilegal de produtos feitos com partes de rinocerontes. O fotógrafo visitou mais de 30 cenas desse tipo de crime ao longo da apuração e experiencias que lhe deixaram deprimido, segundo ele.

"O meu primeiro filho nascerá em fevereiro, eu tenho 48 anos. E eu acho que demorei tanto tempo (para ter filhos) porque eu meio que perdi a fé na humanidade com o trabalho que chamamos de foto jornalistico. Você de certa forma perde a fé na humanidade."

Stirton, que recebeu o prêmio em uma festa de gala no Museu de História Natural, acredita que por trás do crime da foto provavelmente estão pessoas locais trabalhando sob ordens de outros.

É uma prática comum vender os dois chifres do animal a um intermediário. Essa pessoa então trafica a mercadoria para fora da África do Sul, muito provavelmente por Moçambique, para a China ou o Vietna.

Nesses países asiáticos, o chifre de rinoceronte é extremamente valorizado-comparável a ouro.

O negócio se baseia na crença, sem base cientifica, de que o chifre - que é feito do mesmo material que as unhas dos pés - pode curar tudo, de câncer a pedra nos rins.

"Para eu vencer isso, para o júri reconhecer esse tipo de foto, isso ilustra que estamos vivendo em um momento diferente agora, que isso é uma questão real. A sexta era de extinção é uma realidade e os rinocerontes são apenas um entre as muitas espécies que estamos perdendo em uma velocidade acelerada, e eu sou muito grato à escolha do júri porque dá uma outra plataforma para essa questão", disse Brent Stirton à BBC.


Lewis Blackwell, presidente do júri, disse que a imagem do rinoceronte teve um impacto arrebatador sobre o grupo: "as pessoas podem ficar enojadas ou
horrorizadas - mas (a foto) te fisga e você quer saber mais, você quer saber a história por trás. E você não pode escapar disso, ela te confronta com o que está acontecendo no mundo".

Desjejum do gorila

A foto de um jovem gorila comendo sua fruta de café da manha foi a vencedora da categoria Jovem Fotógrafo da Vida Selvagem.

Ela foi registrada pelo holandês Daniel Nelson, que entrou na categoria de fotógrafos com idade entre 15 e 17 anos.

O gorila tem cerca de nove anos de idade e é chamado de Caco pelos cuidadores.
Eles levaram o jovem para ver o animal no Parque Nacional de Odzala, na República do Congo.

O gorila-da-planície, que vive nas florestas tropicais da África central e ocidental, é uma espécie correndo sério risco de extinção. O número de animais está sendo diminuido pela caça ilegal, doenças (principalmente o ebola) e perda de habitat para minas e plantações de palmeiras.

Daniel, que agora tem 18 anos, disse que ficou sabendo do prêmio aos seis.
"Fiquei imediatamente inspirado e desde então minhas paixões na vida estão relacionadas à vida selvagem, fotografia e conservação."


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Furacão Irma ganhou força por causa do aquecimento global

É cada vez mais seguro dizer que as mudanças climáticas causadas pelos humanos estão aumentando o poder de destruição dos furacões

O Furacão Irma, segundo a imagem de satélite da agência americana de oceanos e atmosfera NOAA (Foto: NOAA)


O Furacão Irma, que espalha destruição pelo Caribe, não foi obra humana. Mas é cada vez mais seguro dizer que ele ganhou mais força por causa das mudanças climáticas causadas pelas atividades humanas.

As mudanças climáticas estão aceleradas pela emissão de gases derivados de atividades humanas, indica a ciência atual. São vários gases. O principal deles é o gás carbônico, proveniente da queima de combustíveis fósseis (como derivados de petróleo, gás natural e carvão mineral) e da queima de florestas para desmatamento. Esses gases se acumulam na atmosfera. A concentração de carbono hoje ultrapassou a marca de 400 partes por milhão. Essa concentração nunca foi vista desde que os humanos surgiram na Terra. Esses gases retêm o calor do sol no planeta, intensificando um fenômeno natural chamado efeito estufa. Com isso, o planeta vem esquentando em ritmo acelerado (para os padrões geológicos), década após década.

Pesquisas recentes mostram que os furacões ficaram mais fortes nas últimas décadas. O aumento de temperatura nas superfícies da terra e do oceano eleva a energia potencial disponível para os furacões que se formam no Atlântico.

O Irma ganhou intensidade quando estava sobre a superfície do mar, de 0,5 a 1,25 grau acima da média. Essa média considera o período entre 1961 e 1990, quando as mudanças climáticas já estavam em andamento. Ou seja, a elevação em relação ao século XIX, antes de as emissões de efeito estufa ganharem escala global, é ainda maior.

Os furacões do Atlântico estão ganhando força, segundo um estudo que mostra a tendência dos últimos 30 anos. essa pesquisa foi liderada por James Elsner, da Universidade da Flórida, e publicada na revista Nature.

Outro estudo, coordenado por Erik Fraza, da Universidade Estadual da Flórida, e publicado na revista Physical Geography, associa a intensificação dos furacões com a elevação de temperatura no Atlântico.

Um trabalho ainda mais detalhado, dessa vez sobre os ciclones (os furacões do Pacífico), traça a relação entre a influência humana, as mudanças no oceano e a intensificação das tempestades destruidoras. Esse estudo foi liderado por Wei Zhang da NOAA, agência americana de oceanos e atmosfera, e publicado na revista da Sociedade Meteorológica Americana.


"Os furacões extraem energia do oceano para convertê-la em força dos ventos. Quando mais quente estiver o oceano, mais forte o furacão pode ficar. Por isso, os cientistas estão seguros de que, se continuarmos a esquentar os oceanos, teremos mais desses furacões extremamente fortes", diz o meteorologista americano Jeff Masters, da empresa de previsão do tempo Weather Underground.

"O Irma certamente se encaixa no padrão de furacões cada vez mais fortes, que é precisamente o que os estudos previram que veríamos como resultado do aquecimento global provocado pelos humanos", diz o climatologista Michael Mann, da Universidade Penn State, nos Estados Unidos. Mann é o autor do levantamento mais famoso que mostra a aceleração do aquecimento global nas últimas décadas.

Um estudo de 2012 mostrou que os furacões do Atlântico estão ganhando força mais rápido do que há 25 anos. Esse trabalho foi liderado por C.M. Kishtawal, do Centro de Pesquisas Espaciais de Ahmedabad, na Índia, e publicado na revista Geophysical Research Letters, da União Geofísica Americana.


Outro estudo, de 2016, confirmou que os furacões estão ganhando força mais rápido e subindo para categorias mais altas. Quanto mais alta a categoria, mais forte e destruidor é o furacão. Também mostrou a relação entre o aquecimento do mar causado pelos humanos e a força crescente dos furacões. Essa pesquisa, de Jing Xu, da Administração Meteorológica da China, em Pequim, foi publicada na revista da Sociedade Meteorológica Americana.



O Furacão Harvey, que arrasou partes do Texas há poucos dias, também foi relacionado com as mudanças climáticas. Os furacões do Atlântico afetam vários países do Caribe. Alguns bastante pobres, como o Haiti. Mas os furacões também se abatem sobre os Estados Unidos. É irônico que o país, um dos maiores responsáveis pelas emissões causadoras das mudanças climáticas, esteja vivendo uma administração que praticamente nega o fenômeno e vem promovendo vários retrocessos na luta para reduzir as piores consequências para o planeta.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Os ecologistas querem acabar com a agricultura brasileira?

O Brasil vive um desses momentos de embate em torno dos direitos ambientais. Mas o que estamos vendo é, antes de mais nada, uma guerra de narrativas.

À SOMBRA DA FLORESTA Um catador de açaí no Pará. Sua atividade é mais vantajosa do que derrubar a mata para a pecuária (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)

O Brasil vive um desses momentos de embate em torno dos direitos ambientais. O governo federal e o Congresso parecem empenhados em desmantelar as salvaguardas que o país construiu para defender nossos recursos naturais. As iniciativas visam reduzir as Unidades de Conservação. São apoiadas por uma coesa base parlamentar ligada aos interesses do agronegócio. Argumentam que o Brasil precisa olhar para quem produz, defender o setor rural, respeitar quem bota a comida no prato do brasileiro e ainda exporta com alta competitividade, contribuindo para uma parte saudável de nosso PIB.

Afinal, os ecologistas querem acabar com a agricultura brasileira?

O que estamos vendo é, antes de mais nada, uma guerra de narrativas. Há duas grandes histórias sendo contadas aos brasileiros. São dois argumentos que lutam para conquistar os corações e mentes de cidadãos, consumidores, decisores. A primeira narrativa é a que embala os esforços para reduzir as Unidades de Conservação, diminuir proteções legais, flexibilizar os licenciamentos ambientais, tornar mais fácil construir e plantar sem negociar contrapartidas aos impactos ecológicos e humanos. A lógica dessa narrativa é que precisamos sempre fazer uma escolha: conservar ou produzir. Deixar a vegetação nativa intocada ou ocupar a terra para fins úteis aos humanos. Um dos argumentos mais usados para justificar essa visão é que todas as sociedades devastaram a natureza para se desenvolver. Que um pouco de destruição ambiental é o preço do progresso. Que os países ricos já fizeram isso e agora não querem que nós, brasileiros, façamos o mesmo. O argumento vai além. É comum dizer que os países ricos – ou pessoas dos países ricos – sustentam ONGs ambientalistas internacionais que defendem a conservação da natureza nos países em desenvolvimento para obstruir o progresso por aqui. Quando se entra nesse dilema, restam poucas opções. Entre a comida no prato e o mico na árvore, que escolha nós temos?

Na verdade, temos a escolha de não entrar nesse falso dilema. E aí entra a segunda narrativa. Ela se baseia num dilema diferente: produzir de forma insustentável ou produzir de forma sustentável. Aí a história fica um pouco mais complexa. É possível produzir das duas formas. Mas da primeira, explorando de forma predatória os recursos naturais, os impactos são grandes e o benefício não dura para sempre. Já uma produção que respeita os limites naturais traz benefícios mais amplos para a sociedade e tende a ser mais duradoura.

Essa é a escolha que os setores mais modernos do país querem que façamos. Essa escolha está cada vez mais cristalina no embate entre o uso da terra e o direito ao desmatamento no Brasil. Pesquisas recentes mostram que a destruição do Cerrado pode afetar o ciclo de chuvas que alimentam a própria agricultura. Estudos e mais estudos mostram que a manutenção da Floresta Amazônica é vital para o equilíbrio climático do planeta. Outros estudos mostram o papel dos cuidados previstos no Código Florestal para evitar a erosão, que acaba com a lavoura. Não são apenas hipóteses. A história da exploração predatória e suicida do Vale do Paraíba, no Sudeste do Brasil, mostra como um ciclo agrícola baseado no desmatamento levou ao esgotamento dos recursos e à ruína dos próprios fazendeiros.

Na Amazônia brasileira, o dilema é ainda mais falso. O motor do desmatamento não é exatamente a vontade de produzir, mas o interesse em se apropriar ilegalmente de terra pública para fins especulativos. O ciclo mais comum na região é uma sequência de espoliação inconsequente do nosso patrimônio. Primeiro, o “empreendedor” contrata uma madeireira que invade uma floresta pública e tira as árvores de valor comercial, amparado por pistoleiros. Em seguida, ele queima o que restou para a produção de carvão. Com o dinheiro da madeira e do carvão, planta capim e coloca alguns bois para justificar uma ocupação de terra e tentar obter alguma documentação de posse de propriedade. Não é uma lógica de uso sustentável da terra.

O que ocorre agora numa das áreas pivôs da crise é emblemático. A Floresta Nacional do Jamanxim no Pará é uma das Unidades de Conservação que a Bancada Ruralista quer reduzir, supostamente em nome da produção. Mas não se trata de uma unidade de preservação da floresta intocada. A Floresta Nacional (Flona) é um tipo de unidade criada especialmente para a exploração de madeira, por concessão a uma empresa privada, que maneja a área e produz de forma sustentável. A briga no Congresso é para retalhar a Flona e entregar parte dela a grileiros que invadiram a terra pública para tirar madeira ilegalmente e carvão, ou até para colocar alguns bois. Isso em prejuízo das empresas privadas que gostariam de explorar madeira legalmente lá. Que tipo de empreendedor queremos incentivar?

Várias empresas madeireiras exploram há décadas porções da Amazônia produzindo de forma manejada, que respeita o ciclo de recuperação da vegetação. Elas dão lucro, exportam, empregam mais gente do que outras atividades, como a pecuária. Uma empresa inovadora em Mato Grosso ajuda pecuaristas a produzir seguindo todos os cuidados ambientais e sociais, com maior retorno financeiro. Há cada vez mais opções e mercado para produtos de alto valor econômico que exploram a floresta em pé, como guaraná, açaí, castanha, óleos naturais para cosméticos. O Pará já é o maior produtor de cacau do país, sob a sombra da floresta.

Talvez o verdadeiro dilema para o país seja que tipo de desenvolvimento nós queremos. Se aquele baseado na exploração exaustiva dos recursos, como fizemos na destruição das florestas litorâneas até o esgotamento da preciosa madeira vermelha que deu nome ao nosso país. Ou se queremos romper nosso histórico de devastação para construir uma nação rica, desenvolvida, generosa e perene.