quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Ecossistemas marinhos podem resistir às piores extinções em massa

Estudo sugere que funcionamento da vida marinha não foi drasticamente alterado em razão de extremo aquecimento global há 210 milhões de anos


Extinção no fim do período Triássico provocou a morte de 50% das espécies na Terra, mas, mesmo perdendo espécies, o ecossistema marinho pode se recuperar 




Uma das maiores extinções em massa da história não afetou drasticamente os ecossistemas marinhos, sugere um estudo publicado na última semana no periódico Paleontology. Segundo os pesquisadores, embora a extinção em massa que ocorreu durante o final do período Triássico, há 210 milhões de anos, tenha acabado com uma vasta quantidade de espécies tanto na terra quanto no mar, não houve mudanças extremas no funcionamento da vida marinha.

“Enquanto a extinção em massa do fim do Triássico teve um grande impacto no número total de espécies marinhas, a diversidade presente nas espécies restantes era suficiente para fazer com que o ecossistema marinho funcionasse da mesma forma que antes”, afirma o autor do estudo, o paleobiólogo Alex Dunhill, da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Segundo os pesquisadores, o resultado demonstra que os ecossistemas marinhos são mais resistentes do que se imaginava e poderiam sobreviver a alguns dos piores eventos de extinção massiva da Terra.

“Não estamos dizendo que nada aconteceu”, complementa o paleontólogo e coautor William Foster, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos. “Em vez disso, os oceanos globais nos momentos posteriores à extinção eram mais ou menos como um navio tripulado por uma equipe de esqueletos – todas as estações poderiam ser operadas, mas eram administradas por relativamente poucas espécies.”

Durante o evento de extinção, quase 50% da vida na Terra desapareceu como uma consequência de enormes erupções vulcânicas. A atividade dos vulcões aumentou drasticamente a quantidade de gases estufa na atmosfera, provocando um aquecimento global rápido e extremo. As erupções também estavam associadas ao rompimento do supercontinente Pangea e à abertura do Oceano Atlântico.

No estudo, Dunhill e sua equipe compararam os ecossistemas marinhos antes e depois do evento de extinção ao examinar fósseis do Triássico Médio ao Jurássico Médio – um intervalo de tempo de 70 milhões de anos. Eles também classificaram o estilo de vida de diferentes animais que viviam nos oceanos, analisando a forma como se locomoviam, onde viviam e como se alimentavam.

Dessa forma, os pesquisadores perceberam que nenhum dos estilos de vida desapareceu completamente por causa do evento – e isso ajudou a preservar quase completamente o ecossistema marinho como um todo. Ainda assim, eles admitem que a extinção em massa teve profundos efeitos regionais e ambientais e teve um impacto extremo em ecossistemas oceânicos específicos.

“Algumas das grandes vítimas marinhas do fim do Triássico foram os animais estacionários de recife, como corais. Quando examinamos o registro fóssil, vimos que, enquanto o ecossistema marinho continuava a funcionar como um todo, levou mais de 20 milhões de anos para que os ecossistemas de recifes tropicais se recuperassem desse cataclismo ambiental”, explica Dunhill. “Os ecossistemas de recife são os mais vulneráveis ​​a mudanças ambientais rápidas. O efeito dos gases estufa no fim do Triássico não foi tão diferente do que você vê acontecendo hoje com os recifes de coral, que sofrem com aumento da temperatura do oceano.” Por isso, os pesquisadores acreditam que compreender o que aconteceu com as espécies marinhas no passado pode ajudar a prever o que aconteceria com elas em eventos semelhantes no futuro.




segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Fórum Mundial em Brasília busca alternativa para o futuro da água

Maior evento mundial sobre o tema ocorre entre os dias 18 e 23 de março de 2018 e vai buscar respostas e soluções para os principais problemas hídricos

Água: eixo Sustentabilidade é novo na agenda e vai abrir a discussão da água quanto sua importância social, econômica e ambiental (Naumoid/Thinkstock)

Dentro de 100 dias, cerca de 30 mil pessoas deverão participar do 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, que tem como lema principal compartilhar água.

Entre os dias 18 e 23 de março de 2018, o maior evento mundial dedicado ao uso da água vai buscar respostas e soluções para os principais problemas sobre recursos hídricos.

Realizado pela primeira vez em 1997, pelo então recém-criado Conselho Mundial da Água (com sede permanente na cidade de Marselha, na França), o fórum, que ocorre a cada três anos, nunca foi sediado em um país do Hemisfério Sul. Ao todo, já ocorreram sete edições do evento na África, América, Ásia e Europa.

Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador de uma das comissões do fórum, Glauco Kimura, explica que o encontro buscará alternativas para que as futuras gerações possam ter água disponível.

“Nós trabalhamos com três propósitos: mobilizar a sociedade para o tema da água; promover a troca de experiências, que é fantástica, e criar o ambiente político favorável”, diz.

Para Kimura, o fórum não tem caráter de engajamento político, a exemplo das conferências internacionais – como as convenções do Clima, da Biodiversidade, de Quioto, entre outras – nas quais os países se comprometem com objetivos e metas a serem alcançados. A ideia é que os debates levem a um comprometimento não só de governos, mas da sociedade.

Propostas para discussão

O tema água foi dividido em cinco eixos: Processo Temático, Processo Regional, Processo Político, Grupo Focal de Sustentabilidade e Fórum Cidadão.

Glauco Kimura coordena a comissão do Fórum Temático, responsável pela programação do fórum, definida por representantes de diferentes grupos ligados à questão da água.

Ele conta que a comissão foi constituída seguindo o padrão já estabelecido desde o primeiro fórum, realizado no Marrocos.

“Fizemos chamadas públicas para que as organizações envolvidas na questão da água apresentassem suas propostas e indicassem seus painelistas. E esse modelo foi adotado pelas outras comissões. Com isso, estamos montando a grade programática que será composta por sessões de cada processo [eixo] que vão dar o conteúdo do fórum”.

No eixo Processo Regional, a questão da água será tratada do ponto de vista de cada região do mundo. “Cada região tem com a água problemas específicos e soluções diferentes entre si. E essa diversidade vai enriquecer seguramente as sessões de debates”.

No Fórum Político, o objetivo é “incentivar o engajamento das autoridades políticas locais e regionais, como parlamentares, prefeitos e governadores, na participação de atividades e encontros direcionados ao tema água, porque soluções na gestão da água não podem ser implementadas senão por decisões políticas, de lideranças fortes”.

O eixo Sustentabilidade é novo na agenda e vai abrir o leque para a discussão da água quanto sua importância social, econômica e ambiental, e para o desenvolvimento de modelos de gestão mais sustentáveis.

Outra novidade é o Fórum Cidadão, que vai permitir a expansão do debate para o público presente ao evento.

“O que se quer é despertar a consciência e chamar a atenção do cidadão comum para assuntos relacionados à água como algo do seu interesse. E ao mesmo tempo, detectar soluções inovadoras para tendo presente o tema ‘Compartilhando Água”, destaca Kimura.

Ele lembra que haverá ainda o painel de alto nível no qual estarão presentes chefes de Estados, ministros e CEOs de grandes corporações, e quando sairá um posicionamento político.

“Essa declaração não terá um caráter vinculante como os documentos produzidos nas conferências internacionais, mas será sempre uma declaração de compromisso com a questão da água. Porque o fórum tem um caráter de engajamento político que deve influenciar mais adiante decisões políticas sobre o uso e o compartilhamento da água do planeta”, avalia o coordenador.

Entre as presenças confirmadas está o rei Guilherme Alexandre, da Holanda, conhecido pelo seu engajamento com a questão da água, tendo presidido até 2013 o Conselho Consultivo sobre Água e Saneamento da Secretaria-Geral das Nações Unidas.

Outras vozes

Também pela primeira vez, o Fórum Mundial da Água se propôs a ouvir as pessoas que estejam interessadas em colaborar e influenciar as discussões. Foi criado o canal Sua Voz (Your Voice) no site do fórum como uma plataforma para todos que queiram participar com ideias, sugestões e propostas.

Já na primeira rodada, entre 13 de fevereiro e 23 de abril, mais de 20 mil visitantes passaram pelas salas de discussão, deixando mais de 500 sugestões.

A plataforma ficará aberta até janeiro próximo para uma próxima rodada de discussões e, segundo Kimura, a inovação deste fórum vai focalizar especificamente os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela ONU na Agenda 2030.

Desse modo, os debates dentro das seis salas do canal deverão abordar o desenvolvimento sustentável sob diversos pontos de vista.

“Qualquer cidadão vai poder se inscrever e apresentar sua ideia, sugestão ou proposta numa das salas que foram divididas por tema. Você tem a sala do Clima onde a discussão vai girar em torno da segurança hídrica e das mudanças climáticas. Em outra sala, que tem as pessoas como tema, o debate será basicamente sobre saneamento e saúde”.

Os outros quatro temas são: Desenvolvimento, Ambientes Urbanos, Ecossistemas e Finanças.

Kimura destaca ainda o Business Day (Dia de Negócios) como exemplo da participação diversificada no fórum.

“É um evento para troca de experiências de inovação entre empresas – desde as grandes corporações até empresas de pequeno e médio portes que mostrarão seus projetos para o melhor uso e preservação da água. Há espaço para aqueles projetos de tecnologia de baixo custo e de alcance social”.

Legado

Todo esse esforço para juntar ideias, propostas e sugestões vindas de fontes tão diversas vai resultar em relatório final, a ser publicado em agosto de 2018.

“O documento deverá conter o que nós chamamos de Implementation Road Map, que vai reunir as recomendações sobre tudo aquilo que deveria ser feito para a preservação e o bom uso da água, por quais organizações poderia ser feito e em que setores da sociedade”, diz o coordenador.

Essas recomendações surgirão do debate e da análise das centenas de propostas que serão recolhidas nas diversas instâncias do fórum.

Para conseguir que todas essas informações sejam consideradas e nenhuma delas se perca, a Universidade de Brasília (UnB) vai atuar com 100 bolsistas na coleta desses dados que irão depois para a NC/Dream Factory, a empresa oficial do fórum.

“Quando você reúne ideias e soluções oriundas de países e regiões diferentes você vai acabar encontrando complementaridade entre elas e às vezes sobreposição. Por exemplo, suponhamos o caso de um rio poluído em uma região metropolitana da América do Sul que surge na discussão e encontra o caso de outro rio poluído numa região agrícola da Ásia. São dois casos que podem ter diferenças e ao mesmo tempo problemas semelhantes, mas que podem vir a ter soluções em comum”, avalia Kimura.

Para ele, com a presença de representantes de diversas partes do planeta, o 8º Fórum Mundial da Água poderá, de algum modo, amplificar o alerta que vem sendo feito desde a criação do Conselho Mundial da Água, em 1996: “As pessoas precisam ser lembradas de que ninguém sobrevive sem água”.


terça-feira, 14 de novembro de 2017

Poluição mata mais que guerra e violência

Estudo americano revela que cerca de nove milhões de mortes anuais podem ser atribuídas a doenças causadas pela contaminação do ar e da água.


 A poluição mata mais pessoas anualmente que todas as guerras e violência no mundo, tabaco, fome, desastres naturais, aids, tuberculose e malária, concluiu um estudo americano.

Uma em cada seis mortes prematuras no mundo registradas em 2015 – cerca de nove milhões – podem ser atribuídas a doenças por exposição tóxica, de acordo com um estudo divulgado na quinta-feira (19/10) pela revista científica The Lancet.

Segundo o artigo, a poluição do ar foi responsável por 6,5 milhões de mortes, seguida pela poluição da água, que matou aproximadamente 1,8 milhão de pessoas.

A estimativa de cerca de nove milhões de mortes prematuras por poluição ambiental, considerada conservadora pelos autores do estudo, é um valor 1,5 maior do que o número de pessoas mortas pelo tabagismo e três vezes o número de mortes por aids, tuberculose e malária juntos. A estatística supera também em 15 vezes o número de pessoas mortas em guerras ou outras formas de violência.

Segundo o estudo, 92% das mortes relacionadas à poluição ocorreram em países em desenvolvimento de baixa ou média renda. Uma em cada quatro mortes prematuras na Índia em 2015, ou cerca de 2,5 milhões, foram atribuídas à poluição. Na China, as causas ambientais foram o segundo maior motivo de óbitos, causando mais de 1,8 milhão de mortes prematuras, ou uma em cada cinco.

O estudo é a primeira tentativa de reunir dados sobre doenças e mortes causadas por todas as formas de poluição combinadas, do ar à água contaminada.

"Há muitos estudos sobre a poluição, mas o tema nunca foi alvo dos recursos ou nível de atenção de algo como a aids ou as alterações climáticas", diz o epidemiologista Philip Landrigan, diretor do departamento de saúde global da Faculdade de Medicina Mount Sinai, Nova York, e principal autor do relatório. "A poluição é um enorme problema que as pessoas não estão vendo porque estão olhando para as suas componentes espalhadas."

O relatório estima um prejuízo de 4,6 trilhões de dólares anuais – ou 6,2% da economia global - relacionado à poluição e às mortes causadas por ela.

"O que as pessoas não percebem é que a poluição prejudica as economias. As pessoas doentes ou mortas não podem contribuir para a economia. Precisam de cuidados", diz Richard Fuller, um dos autores do estudo e chefe da organização Pure Earth, que se dedica à despoluição no mundo em desenvolvimento. "Ministros das Finanças ainda seguem o mito de que, se não deixar a indústria poluir, não haverá desenvolvimento. Isso não é verdade."

De acordo com o estudo, o fardo financeiro atinge mais fortemente os países mais pobres. Os Estados de menor renda gastam em média 8,3% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para combater os danos causados pela poluição, enquanto os países desenvolvidos desembolsam 4,5%.




segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Mudanças climáticas ameaçam sobrevivência das abelhas

Grande parte das culturas alimentares do mundo dependem de abelhas e outros polinizadores




São Paulo – O declínio dramático das populações de abelhas nos últimos anos tem levado os cientistas a uma corrida global para identificar os principais responsáveis por essa perda.
Três quartos das culturas alimentares do mundo dependem de abelhas e outros polinizadores, o que significa que o sumiço delas põe em xeque a segurança alimentar além de  afetar o equilíbrio dos ecossistemas.
O dano infligido pelas mudanças climáticas aos polinizadores é uma preocupação particular para os cientistas. Uma nova pesquisa, desenvolvida pela Universidade Estadual da Flórida e colaboradores, ajuda a explicar o vínculo entre o clima global em mudança e declínio das populações de abelhas em todo o mundo.
No estudo, publicado na revista Ecology Letters, os pesquisadores descobriram que, assim como o sumiço das abelhas afeta a produção de alimentos, as mudanças climáticas afetam a disponibilidade de flores e alimentos para as próprias abelhas.
A equipe de pesquisa examinou três espécies de abelhas das montanhas rochosas do Colorado, nos EUA, e descobriram que à medida que o clima global muda, os ciclos sazonais delicadamente equilibrados também começam a mudar. Nas montanhas rochosas, isso significa a antecipação do degelo e o prolongamento da estação das flores.
De saída, essas mudanças podem parecer uma benção para as abelhas, afinal uma temporada de floração mais longa proveria mais alimento para as abelhas. No entanto, os pesquisadores descobriram que à medida que a neve derrete mais cedo e a temporada de floração se estende, o número de dias com pouca disponibilidade de flores aumenta, resultando em uma escassez geral de alimentos, que está relacionada ao declínio populacional das abelhas.
“Quando os pesquisadores pensam sobre os efeitos das flores nas abelhas, eles geralmente consideram a abundância como o fator mais importante, mas descobrimos que a distribuição das flores ao longo de uma temporada foi o mais importante para as abelhas”, disse Jane Ogilvie, principal autora do estudo em nota da Universidade.
“Quanto mais dias com boa disponibilidade de flores, mais abelhas podem forragear e as colônias podem crescer. Agora temos temporadas de florescências mais longas por causa da precipitação do derretimento de neve, mas a abundância floral não mudou em geral. Isso significa que temos mais dias em uma estação com pouca disponibilidade de flores”.
Segundo a pesquisadora, a descoberta contribui para a crescente evidência das graves consequências ecológicas das mudanças climáticas e lança novos desafios para a conservação. Os resultados sugerem, ainda, que os pesquisadores do tema devem considerar como as fontes alimentares de uma espécie podem estar respondendo às mudanças climáticas.
Além do fator climático, cientistas mundo a fora estudam outros fatores que podem estar interferindo nas colmeias e no comportamento das abelhas.
Os fatores mais pesquisados incluem o ácaro Varroa destructor, o fungo Nosema ceranae, alguns vírus, pesticidas, em especial os do grupo de neonicotinoides, além do desmatamento e fragmentação de matas e florestas.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Os perigos de reutilizar sua garrafinha de água

Mesmo sendo um hábito ambientalmente correto, reutilizar garrafa de água pode trazer danos à sua saúde


Garrafas de plástico são um grande problema ambiental. Elas são feitas do petróleo, que é uma fonte não renovável, requerem energia para sua produção e distribuição, e acabam contaminando o meio ambiente devido ao fato de grande parte delas não ser direcionada à reciclagem. Ou seja, o destino final acaba sendo lixões, aterros e mares, com péssimas consequências ambientais.

Pensando assim, já que eu utilizei uma garrafa de água, por que não reabastecê-la e usá-la novamente? Afinal, não seria necessária a energia para sua reciclagem e nem poluiria o meio ambiente, certo?

Primeiramente, se você pensa assim, parabéns! O mundo precisa de mais pessoas como você (mas não esqueça que você deve evitar o hábito de comprar a garrafa - há outras opções, como veremos adiante). No entanto, infelizmente essa não é uma solução muito boa para esse problema. Essas garrafas de plástico não são próprias para serem reutilizadas, tanto é que até mesmo seus fabricantes recomendam seu descarte após o uso.

Um dos principais problemas da reutilização dessas garrafas é a contaminação bacteriana. Afinal, as garrafas são um ambiente úmido, fechado e com grande contato com a boca e com as mãos, ou seja, um local perfeito para as bactérias se procriarem. Um estudo realizado a partir de 75 amostras de água das garrafas que alunos do ensino básico utilizaram durante meses, sem jamais as lavarem, descobriu que cerca de dois terços das amostras apresentavam níveis bacterianos acima dos padrões recomendados. A quantidade de coliformes fecais (bactérias provenientes das fezes dos mamíferos) foram identificadas acima do limite recomendado em dez amostras das 75 estudadas. As garrafas não lavadas funcionam como criadouro perfeito de bactérias, afirma Cathy Ryan, uma das responsáveis pelo estudo.



Ah! Então, sem problemas, basta eu lavar minha garrafa d'água que não tem erro!:)

Bem, existe outro problema relacionado a essas garrafas: é o Bisfenol A (BPA), um composto utilizado na produção de plásticos e resinas, que é encontrado principalmente nos plásticos que são fabricados com policarbonato, com o símbolo de reciclagem 7 na embalagem. Um estudo realizado pela Universidade de Harvard, nos EUA, colocou um grupo de pessoas utilizando garrafas plásticas com esse material por uma semana e encontrou um aumento dos níveis de BPA na urina em cerca de 60%. Outro estudo da Universidade de Cincinnati descobriu que ao lavar as garrafas com água quente, o processo de lixiviação foi acelerado, ou seja, o BPA se desprendia mais facilmente do material plástico.

As garrafas com símbolo de reciclagem 1 na embalagem (as PET) também apresentam problemas, posto que podem contaminar a água com outras substâncias de desregulação endócrina e químicos estrogênicos que causam problemas hormonais, como foi identificado por um estudo de 2010.


Opções

Procure garrafas de vidro ou de aço inoxidável para reutilizar, pois, além de ajudar o meio ambiente ao eliminar a necessidade de grandes quantidades de garrafas plásticas, você também estará evitando problemas de saúde. Caso você queira ou realmente precise de uma garrafa de plástico, as mais recomendadas são as de polipropileno, que geralmente possuem uma aparência branca. Um cuidado necessário com todos os tipos de garrafas é o fato de mantê-las limpas a fim de minimizar a contaminação bacteriana, lavá-las e permitir que elas sequem antes de seu reúso.

Quanto às garrafas plásticas, procure realizar sua reciclagem de forma correta, mas evite-as ao máximo.Verifique qual o tipo de plástico ela é feita, facilitando assim o seu descarte seletivo. Descubra o ponto de coleta desse material mais próximo de sua casa.



quarta-feira, 25 de outubro de 2017

'Abalou minha fé na humanidade': foto de rinoceronte morto para roubo de chifre vence concurso


Brent Stirton diz que o que ele viu "abalou sua fé na humanidade".

Uma imagem chocante de um crime ambiental foi a vencedora da competição de Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano, conferido anualmente pelo Museu de História Natural de Londres.

Registrada pelo sul-africano Brent Stirton, a foto retrata o corpo caído de um rinoceronte negro na Reserva Hluhluwe Imfolozi, em seu país.

Caçadores clandestinos mataram o animal à noite com um silenciador e arrancaram o seu chifre.

Stirton tirou a foto como parte de uma investigação sobre o comércio ilegal de produtos feitos com partes de rinocerontes. O fotógrafo visitou mais de 30 cenas desse tipo de crime ao longo da apuração e experiencias que lhe deixaram deprimido, segundo ele.

"O meu primeiro filho nascerá em fevereiro, eu tenho 48 anos. E eu acho que demorei tanto tempo (para ter filhos) porque eu meio que perdi a fé na humanidade com o trabalho que chamamos de foto jornalistico. Você de certa forma perde a fé na humanidade."

Stirton, que recebeu o prêmio em uma festa de gala no Museu de História Natural, acredita que por trás do crime da foto provavelmente estão pessoas locais trabalhando sob ordens de outros.

É uma prática comum vender os dois chifres do animal a um intermediário. Essa pessoa então trafica a mercadoria para fora da África do Sul, muito provavelmente por Moçambique, para a China ou o Vietna.

Nesses países asiáticos, o chifre de rinoceronte é extremamente valorizado-comparável a ouro.

O negócio se baseia na crença, sem base cientifica, de que o chifre - que é feito do mesmo material que as unhas dos pés - pode curar tudo, de câncer a pedra nos rins.

"Para eu vencer isso, para o júri reconhecer esse tipo de foto, isso ilustra que estamos vivendo em um momento diferente agora, que isso é uma questão real. A sexta era de extinção é uma realidade e os rinocerontes são apenas um entre as muitas espécies que estamos perdendo em uma velocidade acelerada, e eu sou muito grato à escolha do júri porque dá uma outra plataforma para essa questão", disse Brent Stirton à BBC.


Lewis Blackwell, presidente do júri, disse que a imagem do rinoceronte teve um impacto arrebatador sobre o grupo: "as pessoas podem ficar enojadas ou
horrorizadas - mas (a foto) te fisga e você quer saber mais, você quer saber a história por trás. E você não pode escapar disso, ela te confronta com o que está acontecendo no mundo".

Desjejum do gorila

A foto de um jovem gorila comendo sua fruta de café da manha foi a vencedora da categoria Jovem Fotógrafo da Vida Selvagem.

Ela foi registrada pelo holandês Daniel Nelson, que entrou na categoria de fotógrafos com idade entre 15 e 17 anos.

O gorila tem cerca de nove anos de idade e é chamado de Caco pelos cuidadores.
Eles levaram o jovem para ver o animal no Parque Nacional de Odzala, na República do Congo.

O gorila-da-planície, que vive nas florestas tropicais da África central e ocidental, é uma espécie correndo sério risco de extinção. O número de animais está sendo diminuido pela caça ilegal, doenças (principalmente o ebola) e perda de habitat para minas e plantações de palmeiras.

Daniel, que agora tem 18 anos, disse que ficou sabendo do prêmio aos seis.
"Fiquei imediatamente inspirado e desde então minhas paixões na vida estão relacionadas à vida selvagem, fotografia e conservação."


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Furacão Irma ganhou força por causa do aquecimento global

É cada vez mais seguro dizer que as mudanças climáticas causadas pelos humanos estão aumentando o poder de destruição dos furacões

O Furacão Irma, segundo a imagem de satélite da agência americana de oceanos e atmosfera NOAA (Foto: NOAA)


O Furacão Irma, que espalha destruição pelo Caribe, não foi obra humana. Mas é cada vez mais seguro dizer que ele ganhou mais força por causa das mudanças climáticas causadas pelas atividades humanas.

As mudanças climáticas estão aceleradas pela emissão de gases derivados de atividades humanas, indica a ciência atual. São vários gases. O principal deles é o gás carbônico, proveniente da queima de combustíveis fósseis (como derivados de petróleo, gás natural e carvão mineral) e da queima de florestas para desmatamento. Esses gases se acumulam na atmosfera. A concentração de carbono hoje ultrapassou a marca de 400 partes por milhão. Essa concentração nunca foi vista desde que os humanos surgiram na Terra. Esses gases retêm o calor do sol no planeta, intensificando um fenômeno natural chamado efeito estufa. Com isso, o planeta vem esquentando em ritmo acelerado (para os padrões geológicos), década após década.

Pesquisas recentes mostram que os furacões ficaram mais fortes nas últimas décadas. O aumento de temperatura nas superfícies da terra e do oceano eleva a energia potencial disponível para os furacões que se formam no Atlântico.

O Irma ganhou intensidade quando estava sobre a superfície do mar, de 0,5 a 1,25 grau acima da média. Essa média considera o período entre 1961 e 1990, quando as mudanças climáticas já estavam em andamento. Ou seja, a elevação em relação ao século XIX, antes de as emissões de efeito estufa ganharem escala global, é ainda maior.

Os furacões do Atlântico estão ganhando força, segundo um estudo que mostra a tendência dos últimos 30 anos. essa pesquisa foi liderada por James Elsner, da Universidade da Flórida, e publicada na revista Nature.

Outro estudo, coordenado por Erik Fraza, da Universidade Estadual da Flórida, e publicado na revista Physical Geography, associa a intensificação dos furacões com a elevação de temperatura no Atlântico.

Um trabalho ainda mais detalhado, dessa vez sobre os ciclones (os furacões do Pacífico), traça a relação entre a influência humana, as mudanças no oceano e a intensificação das tempestades destruidoras. Esse estudo foi liderado por Wei Zhang da NOAA, agência americana de oceanos e atmosfera, e publicado na revista da Sociedade Meteorológica Americana.


"Os furacões extraem energia do oceano para convertê-la em força dos ventos. Quando mais quente estiver o oceano, mais forte o furacão pode ficar. Por isso, os cientistas estão seguros de que, se continuarmos a esquentar os oceanos, teremos mais desses furacões extremamente fortes", diz o meteorologista americano Jeff Masters, da empresa de previsão do tempo Weather Underground.

"O Irma certamente se encaixa no padrão de furacões cada vez mais fortes, que é precisamente o que os estudos previram que veríamos como resultado do aquecimento global provocado pelos humanos", diz o climatologista Michael Mann, da Universidade Penn State, nos Estados Unidos. Mann é o autor do levantamento mais famoso que mostra a aceleração do aquecimento global nas últimas décadas.

Um estudo de 2012 mostrou que os furacões do Atlântico estão ganhando força mais rápido do que há 25 anos. Esse trabalho foi liderado por C.M. Kishtawal, do Centro de Pesquisas Espaciais de Ahmedabad, na Índia, e publicado na revista Geophysical Research Letters, da União Geofísica Americana.


Outro estudo, de 2016, confirmou que os furacões estão ganhando força mais rápido e subindo para categorias mais altas. Quanto mais alta a categoria, mais forte e destruidor é o furacão. Também mostrou a relação entre o aquecimento do mar causado pelos humanos e a força crescente dos furacões. Essa pesquisa, de Jing Xu, da Administração Meteorológica da China, em Pequim, foi publicada na revista da Sociedade Meteorológica Americana.



O Furacão Harvey, que arrasou partes do Texas há poucos dias, também foi relacionado com as mudanças climáticas. Os furacões do Atlântico afetam vários países do Caribe. Alguns bastante pobres, como o Haiti. Mas os furacões também se abatem sobre os Estados Unidos. É irônico que o país, um dos maiores responsáveis pelas emissões causadoras das mudanças climáticas, esteja vivendo uma administração que praticamente nega o fenômeno e vem promovendo vários retrocessos na luta para reduzir as piores consequências para o planeta.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Os ecologistas querem acabar com a agricultura brasileira?

O Brasil vive um desses momentos de embate em torno dos direitos ambientais. Mas o que estamos vendo é, antes de mais nada, uma guerra de narrativas.

À SOMBRA DA FLORESTA Um catador de açaí no Pará. Sua atividade é mais vantajosa do que derrubar a mata para a pecuária (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)

O Brasil vive um desses momentos de embate em torno dos direitos ambientais. O governo federal e o Congresso parecem empenhados em desmantelar as salvaguardas que o país construiu para defender nossos recursos naturais. As iniciativas visam reduzir as Unidades de Conservação. São apoiadas por uma coesa base parlamentar ligada aos interesses do agronegócio. Argumentam que o Brasil precisa olhar para quem produz, defender o setor rural, respeitar quem bota a comida no prato do brasileiro e ainda exporta com alta competitividade, contribuindo para uma parte saudável de nosso PIB.

Afinal, os ecologistas querem acabar com a agricultura brasileira?

O que estamos vendo é, antes de mais nada, uma guerra de narrativas. Há duas grandes histórias sendo contadas aos brasileiros. São dois argumentos que lutam para conquistar os corações e mentes de cidadãos, consumidores, decisores. A primeira narrativa é a que embala os esforços para reduzir as Unidades de Conservação, diminuir proteções legais, flexibilizar os licenciamentos ambientais, tornar mais fácil construir e plantar sem negociar contrapartidas aos impactos ecológicos e humanos. A lógica dessa narrativa é que precisamos sempre fazer uma escolha: conservar ou produzir. Deixar a vegetação nativa intocada ou ocupar a terra para fins úteis aos humanos. Um dos argumentos mais usados para justificar essa visão é que todas as sociedades devastaram a natureza para se desenvolver. Que um pouco de destruição ambiental é o preço do progresso. Que os países ricos já fizeram isso e agora não querem que nós, brasileiros, façamos o mesmo. O argumento vai além. É comum dizer que os países ricos – ou pessoas dos países ricos – sustentam ONGs ambientalistas internacionais que defendem a conservação da natureza nos países em desenvolvimento para obstruir o progresso por aqui. Quando se entra nesse dilema, restam poucas opções. Entre a comida no prato e o mico na árvore, que escolha nós temos?

Na verdade, temos a escolha de não entrar nesse falso dilema. E aí entra a segunda narrativa. Ela se baseia num dilema diferente: produzir de forma insustentável ou produzir de forma sustentável. Aí a história fica um pouco mais complexa. É possível produzir das duas formas. Mas da primeira, explorando de forma predatória os recursos naturais, os impactos são grandes e o benefício não dura para sempre. Já uma produção que respeita os limites naturais traz benefícios mais amplos para a sociedade e tende a ser mais duradoura.

Essa é a escolha que os setores mais modernos do país querem que façamos. Essa escolha está cada vez mais cristalina no embate entre o uso da terra e o direito ao desmatamento no Brasil. Pesquisas recentes mostram que a destruição do Cerrado pode afetar o ciclo de chuvas que alimentam a própria agricultura. Estudos e mais estudos mostram que a manutenção da Floresta Amazônica é vital para o equilíbrio climático do planeta. Outros estudos mostram o papel dos cuidados previstos no Código Florestal para evitar a erosão, que acaba com a lavoura. Não são apenas hipóteses. A história da exploração predatória e suicida do Vale do Paraíba, no Sudeste do Brasil, mostra como um ciclo agrícola baseado no desmatamento levou ao esgotamento dos recursos e à ruína dos próprios fazendeiros.

Na Amazônia brasileira, o dilema é ainda mais falso. O motor do desmatamento não é exatamente a vontade de produzir, mas o interesse em se apropriar ilegalmente de terra pública para fins especulativos. O ciclo mais comum na região é uma sequência de espoliação inconsequente do nosso patrimônio. Primeiro, o “empreendedor” contrata uma madeireira que invade uma floresta pública e tira as árvores de valor comercial, amparado por pistoleiros. Em seguida, ele queima o que restou para a produção de carvão. Com o dinheiro da madeira e do carvão, planta capim e coloca alguns bois para justificar uma ocupação de terra e tentar obter alguma documentação de posse de propriedade. Não é uma lógica de uso sustentável da terra.

O que ocorre agora numa das áreas pivôs da crise é emblemático. A Floresta Nacional do Jamanxim no Pará é uma das Unidades de Conservação que a Bancada Ruralista quer reduzir, supostamente em nome da produção. Mas não se trata de uma unidade de preservação da floresta intocada. A Floresta Nacional (Flona) é um tipo de unidade criada especialmente para a exploração de madeira, por concessão a uma empresa privada, que maneja a área e produz de forma sustentável. A briga no Congresso é para retalhar a Flona e entregar parte dela a grileiros que invadiram a terra pública para tirar madeira ilegalmente e carvão, ou até para colocar alguns bois. Isso em prejuízo das empresas privadas que gostariam de explorar madeira legalmente lá. Que tipo de empreendedor queremos incentivar?

Várias empresas madeireiras exploram há décadas porções da Amazônia produzindo de forma manejada, que respeita o ciclo de recuperação da vegetação. Elas dão lucro, exportam, empregam mais gente do que outras atividades, como a pecuária. Uma empresa inovadora em Mato Grosso ajuda pecuaristas a produzir seguindo todos os cuidados ambientais e sociais, com maior retorno financeiro. Há cada vez mais opções e mercado para produtos de alto valor econômico que exploram a floresta em pé, como guaraná, açaí, castanha, óleos naturais para cosméticos. O Pará já é o maior produtor de cacau do país, sob a sombra da floresta.

Talvez o verdadeiro dilema para o país seja que tipo de desenvolvimento nós queremos. Se aquele baseado na exploração exaustiva dos recursos, como fizemos na destruição das florestas litorâneas até o esgotamento da preciosa madeira vermelha que deu nome ao nosso país. Ou se queremos romper nosso histórico de devastação para construir uma nação rica, desenvolvida, generosa e perene.

sábado, 30 de setembro de 2017

As cifras da aniquilação da vida selvagem

A metade dos animais que em um dia povoaram a Terra desapareceram


O veado dos pampas ocupa hoje 1% de seu território original GERARDO CEBALLOS



O último pombo-passageiro (Ectopistes migratorius) morreu cativo no zoológico de Cincinnati (EUA) em 1914. Na prática, a ave que tinha sido a mais abundante do planeta estava havia anos em processo de extinção. Décadas antes, o passageiro nublava os céus da América do Norte em bandos de milhões. Mas chegaram os colonos, alteraram seu habitat e o caçaram até que somente restaram os pombos dos zoos. A história é velha, mas continua se repetindo. Um estudo mostra que hoje cerca de um terço dos vertebrados terrestres perdeu a maior parte dos exemplares que chegaram a ter. E esse é o prelúdio de sua extinção.


“Quando publicamos nossa pesquisa anterior sobre a sexta extinção em massa houve alguns que disseram que o ritmo de desaparecimento de espécies não era maciço”, disse o professor do Instituto de Ecologia da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) Gerardo Ceballos. Embora a gravidade de uma extinção média de duas espécies por ano desde 1900 possa ser questionável, Ceballos recorda que antes de uma espécie se extinguir “isso tem de acontecer com muitas populações locais” e seus bilhões de exemplares.

Para avaliar a intensidade da perda da biodiversidade, o ecologista mexicano, com colegas da Universidade Stanford, estudou desta vez não o número de espécies extintas ou em risco de extinção, mas a redução das populações das espécies ainda existentes. Para isso analisaram a situação de 27.600 espécies de vertebrados terrestres, entre aves, répteis, anfíbios e mamíferos. O ponto de partida é o ano 1900. Para muitas das espécies não há dados confiáveis daquela época (nem agora), de modo que o estudo, publicado na PNAS, se apoia na evolução da distribuição geográfica de cada espécie: que espaço ocupavam então e qual ocupam hoje.

Um terço das espécies (8.851) perdeu a maior parte de seu território original. Além disso, houve a extinção local de muitas populações e a redução da quantidade em quase todas as espécies. Estima-se que pelo menos a metade dos animais que existiram no passado desapareceu. Quanto aos mamíferos, dos quais há dados mais confiáveis, quase a metade das 177 espécies estudadas perdeu até 80% de sua área geográfica.

O caso do leão (Panthera leo) exemplifica o caminho para a extinção. Um animal que há alguns séculos era dono e senhor de amplas regiões do sul da Europa, Oriente Médio, sul da Ásia e todo o continente africano, hoje conta com uma exígua população em uma reserva indiana e apenas 7.000 exemplares em áreas muito dispersas ao sul do Saara. O pior é a velocidade de seu declínio: a população deste felino se reduziu 43% desde 1993, apenas um quarto de século.

“Um total de 30% das espécies que estão perdendo população é das que são chamadas de comuns. Vão de mais a menos comuns até que se tornem espécies muito raras a caminho da extinção”, comenta Ceballos. Pode ser que isso aconteça como com o pombo passageiro em suas últimas décadas ou ocorre hoje com os bisões europeus e até os americanos: “Se você tem 10 indivíduos vivos, a espécie não é considerada extinta. Mas se há 10 condores da Califórnia, já se perdeu a estrutura e a função que desempenhavam no ecossistema”, acrescenta.


Desmatamento está deixando sem espaço muitas espécies do sudeste asiático, como o gibão-cinza 


Do ponto de vista geográfico, o declínio de populações está se dando em todas as latitudes. Há um fato chamativo: embora o número de espécies em retrocesso seja maior nas zonas tropicais, nas áreas de clima temperado, onde há uma menor riqueza de espécies, o impacto qualitativo é maior.

Os fatores que estão por trás do declínio de tantas espécies são muitos: perda do habitat, superexploração, impacto das espécies invasoras, poluição e mudanças climáticas. Todos têm as atividades humanas por trás. No século XIX devia haver milhões de veados dos pampas (Ozotoceros bezoarticus) na América do Sul. Não se sabe a cifra, mas um indício de sua população é o dado de que entre 1860 e 1870 foram exportadas duas milhões de peles dos portos de Montevidéu e Buenos Aires. Hoje, existem apenas poucos milhares em zonas isoladas que representam 1% do território que ocupava. A razão? Primeiro a caça e depois a deterioração de seu habitat em favor das fazendas de gado.

Para Ceballos, o tempo para reverter a sexta grande extinção está acabando. “Tudo dependerá do que fizermos nos próximos 20 anos”, argumenta. No entanto, está otimista: “Da mesma forma que a retirada de Trump do Acordo de Paris contra as mudanças climáticas reativou a luta, percebo nas redes, entre as pessoas, em muitos, uma crescente conscientização sobre o valor da biodiversidade”, cometa. Se essa esperança não se concretizar em esforços coletivos, vai se tornar realidade o título do livro que o ecologista mexicano escreveu com seus colegas norte-americanos Anne Ehrlich e Paul Ehrlich, The Annihilation of Nature (A Aniquilação da Natureza).



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Há microplástico nos alimentos, no sal, no ar e na água. Saiba como ele surge, mude hábitos e previna-se

Você pode não ver, mas ele está lá e não se sabe ainda quais implicações pode causar para a saúde humana


Que o plástico está presente em nosso cotidiano todo mundo sabe, é só olhar para celulares, roupas, computadores, embalagens de alimentos, potes de cosméticos, seringas médicas, equipamentos de engenharia, embalagens de remédios, sinalizadores de trânsito, enfeites, glitter... E essa lista poderia seguir por linhas e linhas.

Mas o que nem todo mundo imagina é que os microplásticos também estão presentes no ar que respiramos, em alimentos como no sal ou na cerveja e até na água que bebemos: cerca de 83% da água de torneira do mundo inteiro está contaminada com microplástico.

Da sola do sapato ao ar que respiramos, não há dúvidas, há plástico em todo canto. Ilhas se transformam em depósito de lixo plástico, assim como terrenos e calçadas. Em 2050, o oceano poderá conter mais peso em plásticos do que peixes. A dúvida é saber se estamos no Antropoceno (a Era da Humanidade) ou na Era do Plástico.

Mas é verdade que os diversos tipos de plástico têm nos libertado e ajudado de muitas formas. Entretanto, assim como há prós, há contras em relação à utilização desse material.

E os contras estão relacionados a problemas de saúde gerados na produção, no contato com o plástico no dia a dia e nas perdas para o ambiente, incluindo o caso de descarte incorreto, que acaba sendo uma das fontes de contaminação de lençóis freáticos, ar, plantas e animais.

Você não vê, mas ele está lá

E o perigo maior é quando o plástico se fragmenta em pequenos pedaços, formando microplástico, que é invisível a olho nu.

Tóxicos

O microplástico, quando presente no ambiente, atua como captador de poluentes orgânicos persistentes (POPs) altamente nocivos. Dentre esses poluentes estão os PCBs, os pesticidas organoclorados, o DDE e o nonifenol.

O POPs são tóxicos e estão diretamente ligados a disfunções hormonais, imunológicas, neurológicas e reprodutivas. Eles ficam durante muito tempo no ambiente e, uma vez ingeridos, têm a capacidade de se fixarem na gordura do corpo, no sangue e nos fluidos corporais de animais e humanos.

Cadeia Alimentar

Ingerir microplástico contaminado não é muito difícil, uma vez que, desde o final da II Guerra Mundial, eles já estão contaminando o ambiente e fazem parte da cadeia alimentar.

Na Indonésia, trabalhadores da pesca já estão consumindo mexilhões contendo microplástico em seus organismos. E não é somente na Indonésia, no Reino Unido e na Austrália os mexilhões também estão contaminados por microplástico. Quem come frutos do mar regularmente ingere cerca de 11 mil pedaços de microplástico por ano.

Bisfenóis

Os bisfenóis, utilizados em larga escala pela indústria, estão presentes em tintas, resinas, latas, embalagens e materiais de plástico em geral. Quando escapam para o ambiente, além da poluição visual e física que causam, há a poluição química. Uma vez no ambiente e em nossos corpos, o bisfenol se comporta como um disruptor endócrino, podendo causar esterilização em animais, problemas comportamentais, diminuição da população, entre outros.

Risco para a vida animal

Quando o microplástico contendo bisfenol vai parar no ambiente, ele pode causar reduções em populações de golfinhos, baleias, veados e furões, prejudicar o desenvolvimento de ovos de aves, causar deformidades sexuais em répteis e peixes, alterações na metamorfose de anfíbios e muitos outros danos.

Prejuízos à saúde humana

Os alimentos embalados por recipientes contendo bisfenol se contaminam e, ao alimentarmo-nos destes alimentos, ingerimos também o bisfenol, cujo consumo está, comprovadamente, associado a diabetes, síndrome dos ovários policísticos, cânceres, infertilidade, doenças cardíacas, fibromas uterinos, abortos, endometriose, déficit de atenção, entre muitas outras doenças.
Mas como ele vai para o ambiente?

Na lavagem das roupas


Parte significativa das roupas são compostas por fibras têxteis sintéticas de plástico; um exemplo é o próprio poliéster. Durante a lavagem de roupas, por meio do choque mecânico, o microplástico se desprende e acaba sendo enviado para esgotos, indo parar em corpos hídricos e no ambiente.


No ar


As mesmas fibras têxteis de plástico também vão parar no ar. Um estudo de 2015, realizado em Paris, na França, estimou que, a cada ano, cerca de três a dez toneladas de fibras plásticas atingem as superfícies das cidades. Uma das explicações é que apenas o atrito de um membro com o outro vestido por roupas de fibras têxteis sintéticas plásticas já seria o suficiente para dispersar o microplásticona atmosfera. Essa poeira de microplástico pode ser inalada, juntar-se ao vapor e ir parar na sua xícara de café e no seu prato de comida, por exemplo.


No atrito dos pneus


Os pneus de carros, caminhões e outros veículos são feitos de um tipo de plástico chamado estireno butadieno. Ao passarem pelas ruas, o atrito desses pneus com o asfalto gera emissão de 20 gramas de microplástico a cada 100 quilômetros percorridos. Para se ter uma ideia, na Noruega, é emitido um quilo de microplástico de pneu por ano por pessoa.


Tintas látex e acrílicas

Estudos mostraram que a tinta utilizada em casas, veículos terrestres e navios, desprende-se destes por meio de intempéries e vai parar no oceano, formando uma camada bloqueadora de microplástico na superfície oceânica.

A isto, podemos acrescentar as tintas látex e acrílicas utilizadas em artesanatos e os pincéis lavados nas pias.


Microesferas dos cosméticos



Sabonetes, cremes, pastas, géis e máscaras esfoliantes são um perigo para o ambiente. Esses produtos compõem microplástico de polietileno que, após o uso, é despejado diretamente pela torneira na rede de esgoto... Mesmo quando há estações de tratamento, muitas delas não estão aptas a realizarem a filtragem de partículas tão pequenas.

Nurdles




Nurdles são pequenas bolinhas plásticas utilizadas na manufatura de vários itens plásticos. Ao contrário dos resíduos plásticos que se decompõem até se tornarem microplástico, os nurdles são feitos já com um tamanho reduzido (cerca de 5 mm de diâmetro). Eles são a maneira mais econômica de transferir grandes quantidades de plástico para fabricantes de uso final do material em todo o mundo. O problema é que navios e trens despejam acidentalmente essas bolinhas em estradas ou no mar; ou a parte que sobra da produção não é tratada adequadamente. Se alguns milhares de nurdles caem no mar ou numa rodovia, é praticamente impossível fazer a limpeza. Em uma pesquisa realizada no início de 2017, foram encontrados nurdlesem 75% das praias do Reino Unido.

Material semelhante aos nurdles são os pellets, feitos da mesma maneira mas em formato cilíndrico. Os pellets vão parar no ambiente devido a perdas no transporte e contaminam corpos hídricos, solo e animais.

Descarte incorreto


Durante o ano, pelo menos oito milhões de toneladas de lixo de resíduos de plástico que foram descartados incorretamente vão parar nos oceanos, lagos e rios do mundo todo.

Esses descartes, se fossem encaminhados corretamente para a reciclagem, poderiam voltar para a cadeia energética, mas uma vez no oceano, fragmentam-se em microplástico e acabam entrando na cadeia alimentar, inclusive humana.

Cada canudo, sacola, tampa, rótulo, embalagem descartados incorretamente se quebrarão e formarão microplástico. O plástico não desaparece, só fica menor.

Canudinhos


Todos os dias, um bilhão de canudinhos são descartados diariamente. Só no Estados Unidos, meio milhão de canudinhos são jogados fora diariamente.

Quando vão parar no ambiente (mesmo quando descartados em aterros podem ser levados pelo vento), esses canudinhos, antes de virarem microplástico, acabam indo parar no organismo de animais, até nas narinas de tartarugas.

O que fazer?
  • O primeiro passo é diminuir o consumo de plástico na medida do possível.
  • Troque sua escova de dentes de plástico por uma de bambu.
  • No lugar de tecidos de fibra sintética, utilize algodão orgânico. Confira outras "Dicas para ter uma pegada ambientalmente correta com as suas roupas".
  • Quando comprar alimentos, cosméticos, e produtos em geral, prefira aqueles que venham em embalagens de vidro.
  • Reutilize! Pratique upcycle, uma maneira de reinventar objetos.
  • Tome cuidado com a reutilização de garrafinhas d'água, veja o porquê em nossa matéria "Perigos de reutilizar sua garrifinha de água" - utilize garrafas não descartáveis para transportar sua água.
  • Zere o consumo de itens de plástico supérfluos, como, por exemplo, canudinhos.
  • Pegue e dê carona. Cada carro a mais é sinônimo de mais microplástico no ar e na água.
  • Zere o consumo de cosméticos com esfoliantes sintéticos; substitua-os por receitas naturais. Confira 6 receitas de esfoliantes caseiros.
  • Repense seu consumo e o que você pode fazer para reduzir o plástico presente na sua vida.
  • Dê prioridade aos bioplásticos. Conheça o plástico verde, o plástico PLA e o plástico de amido.
  • Descarte corretamente e encaminhe para reciclagem. Confira quais são os postos de coleta mais próximos de sua residência. Confira também nossa matéria "O que é reciclagem e como ela surgiu?".
  • Conheça a New Plastics Economy. Tendo em vista que 95% do valor do plástico é perdido por mau uso, a iniciativa New Plastic Economy, aplicando os princípios da economia circular, visa reunir setores importantes do ramo do plástico para a repensar e reformular o futuro dos plásticos, começando pela embalagem.
  • Pressione empresas e governos para que garantam o retorno do plástico à cadeia de produção, afinal de contas, nem todo plástico reciclável destinado corretamente é efetivamente reciclado.
FONTE: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/5914-microplastico-microplastico-poluiasao-o-que-sao-microplasticos-microesferas-cosmeticos-nos-oceanos-no-mar.html