quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Ecossistemas marinhos podem resistir às piores extinções em massa

Estudo sugere que funcionamento da vida marinha não foi drasticamente alterado em razão de extremo aquecimento global há 210 milhões de anos


Extinção no fim do período Triássico provocou a morte de 50% das espécies na Terra, mas, mesmo perdendo espécies, o ecossistema marinho pode se recuperar 




Uma das maiores extinções em massa da história não afetou drasticamente os ecossistemas marinhos, sugere um estudo publicado na última semana no periódico Paleontology. Segundo os pesquisadores, embora a extinção em massa que ocorreu durante o final do período Triássico, há 210 milhões de anos, tenha acabado com uma vasta quantidade de espécies tanto na terra quanto no mar, não houve mudanças extremas no funcionamento da vida marinha.

“Enquanto a extinção em massa do fim do Triássico teve um grande impacto no número total de espécies marinhas, a diversidade presente nas espécies restantes era suficiente para fazer com que o ecossistema marinho funcionasse da mesma forma que antes”, afirma o autor do estudo, o paleobiólogo Alex Dunhill, da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Segundo os pesquisadores, o resultado demonstra que os ecossistemas marinhos são mais resistentes do que se imaginava e poderiam sobreviver a alguns dos piores eventos de extinção massiva da Terra.

“Não estamos dizendo que nada aconteceu”, complementa o paleontólogo e coautor William Foster, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos. “Em vez disso, os oceanos globais nos momentos posteriores à extinção eram mais ou menos como um navio tripulado por uma equipe de esqueletos – todas as estações poderiam ser operadas, mas eram administradas por relativamente poucas espécies.”

Durante o evento de extinção, quase 50% da vida na Terra desapareceu como uma consequência de enormes erupções vulcânicas. A atividade dos vulcões aumentou drasticamente a quantidade de gases estufa na atmosfera, provocando um aquecimento global rápido e extremo. As erupções também estavam associadas ao rompimento do supercontinente Pangea e à abertura do Oceano Atlântico.

No estudo, Dunhill e sua equipe compararam os ecossistemas marinhos antes e depois do evento de extinção ao examinar fósseis do Triássico Médio ao Jurássico Médio – um intervalo de tempo de 70 milhões de anos. Eles também classificaram o estilo de vida de diferentes animais que viviam nos oceanos, analisando a forma como se locomoviam, onde viviam e como se alimentavam.

Dessa forma, os pesquisadores perceberam que nenhum dos estilos de vida desapareceu completamente por causa do evento – e isso ajudou a preservar quase completamente o ecossistema marinho como um todo. Ainda assim, eles admitem que a extinção em massa teve profundos efeitos regionais e ambientais e teve um impacto extremo em ecossistemas oceânicos específicos.

“Algumas das grandes vítimas marinhas do fim do Triássico foram os animais estacionários de recife, como corais. Quando examinamos o registro fóssil, vimos que, enquanto o ecossistema marinho continuava a funcionar como um todo, levou mais de 20 milhões de anos para que os ecossistemas de recifes tropicais se recuperassem desse cataclismo ambiental”, explica Dunhill. “Os ecossistemas de recife são os mais vulneráveis ​​a mudanças ambientais rápidas. O efeito dos gases estufa no fim do Triássico não foi tão diferente do que você vê acontecendo hoje com os recifes de coral, que sofrem com aumento da temperatura do oceano.” Por isso, os pesquisadores acreditam que compreender o que aconteceu com as espécies marinhas no passado pode ajudar a prever o que aconteceria com elas em eventos semelhantes no futuro.




segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Fórum Mundial em Brasília busca alternativa para o futuro da água

Maior evento mundial sobre o tema ocorre entre os dias 18 e 23 de março de 2018 e vai buscar respostas e soluções para os principais problemas hídricos

Água: eixo Sustentabilidade é novo na agenda e vai abrir a discussão da água quanto sua importância social, econômica e ambiental (Naumoid/Thinkstock)

Dentro de 100 dias, cerca de 30 mil pessoas deverão participar do 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, que tem como lema principal compartilhar água.

Entre os dias 18 e 23 de março de 2018, o maior evento mundial dedicado ao uso da água vai buscar respostas e soluções para os principais problemas sobre recursos hídricos.

Realizado pela primeira vez em 1997, pelo então recém-criado Conselho Mundial da Água (com sede permanente na cidade de Marselha, na França), o fórum, que ocorre a cada três anos, nunca foi sediado em um país do Hemisfério Sul. Ao todo, já ocorreram sete edições do evento na África, América, Ásia e Europa.

Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador de uma das comissões do fórum, Glauco Kimura, explica que o encontro buscará alternativas para que as futuras gerações possam ter água disponível.

“Nós trabalhamos com três propósitos: mobilizar a sociedade para o tema da água; promover a troca de experiências, que é fantástica, e criar o ambiente político favorável”, diz.

Para Kimura, o fórum não tem caráter de engajamento político, a exemplo das conferências internacionais – como as convenções do Clima, da Biodiversidade, de Quioto, entre outras – nas quais os países se comprometem com objetivos e metas a serem alcançados. A ideia é que os debates levem a um comprometimento não só de governos, mas da sociedade.

Propostas para discussão

O tema água foi dividido em cinco eixos: Processo Temático, Processo Regional, Processo Político, Grupo Focal de Sustentabilidade e Fórum Cidadão.

Glauco Kimura coordena a comissão do Fórum Temático, responsável pela programação do fórum, definida por representantes de diferentes grupos ligados à questão da água.

Ele conta que a comissão foi constituída seguindo o padrão já estabelecido desde o primeiro fórum, realizado no Marrocos.

“Fizemos chamadas públicas para que as organizações envolvidas na questão da água apresentassem suas propostas e indicassem seus painelistas. E esse modelo foi adotado pelas outras comissões. Com isso, estamos montando a grade programática que será composta por sessões de cada processo [eixo] que vão dar o conteúdo do fórum”.

No eixo Processo Regional, a questão da água será tratada do ponto de vista de cada região do mundo. “Cada região tem com a água problemas específicos e soluções diferentes entre si. E essa diversidade vai enriquecer seguramente as sessões de debates”.

No Fórum Político, o objetivo é “incentivar o engajamento das autoridades políticas locais e regionais, como parlamentares, prefeitos e governadores, na participação de atividades e encontros direcionados ao tema água, porque soluções na gestão da água não podem ser implementadas senão por decisões políticas, de lideranças fortes”.

O eixo Sustentabilidade é novo na agenda e vai abrir o leque para a discussão da água quanto sua importância social, econômica e ambiental, e para o desenvolvimento de modelos de gestão mais sustentáveis.

Outra novidade é o Fórum Cidadão, que vai permitir a expansão do debate para o público presente ao evento.

“O que se quer é despertar a consciência e chamar a atenção do cidadão comum para assuntos relacionados à água como algo do seu interesse. E ao mesmo tempo, detectar soluções inovadoras para tendo presente o tema ‘Compartilhando Água”, destaca Kimura.

Ele lembra que haverá ainda o painel de alto nível no qual estarão presentes chefes de Estados, ministros e CEOs de grandes corporações, e quando sairá um posicionamento político.

“Essa declaração não terá um caráter vinculante como os documentos produzidos nas conferências internacionais, mas será sempre uma declaração de compromisso com a questão da água. Porque o fórum tem um caráter de engajamento político que deve influenciar mais adiante decisões políticas sobre o uso e o compartilhamento da água do planeta”, avalia o coordenador.

Entre as presenças confirmadas está o rei Guilherme Alexandre, da Holanda, conhecido pelo seu engajamento com a questão da água, tendo presidido até 2013 o Conselho Consultivo sobre Água e Saneamento da Secretaria-Geral das Nações Unidas.

Outras vozes

Também pela primeira vez, o Fórum Mundial da Água se propôs a ouvir as pessoas que estejam interessadas em colaborar e influenciar as discussões. Foi criado o canal Sua Voz (Your Voice) no site do fórum como uma plataforma para todos que queiram participar com ideias, sugestões e propostas.

Já na primeira rodada, entre 13 de fevereiro e 23 de abril, mais de 20 mil visitantes passaram pelas salas de discussão, deixando mais de 500 sugestões.

A plataforma ficará aberta até janeiro próximo para uma próxima rodada de discussões e, segundo Kimura, a inovação deste fórum vai focalizar especificamente os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela ONU na Agenda 2030.

Desse modo, os debates dentro das seis salas do canal deverão abordar o desenvolvimento sustentável sob diversos pontos de vista.

“Qualquer cidadão vai poder se inscrever e apresentar sua ideia, sugestão ou proposta numa das salas que foram divididas por tema. Você tem a sala do Clima onde a discussão vai girar em torno da segurança hídrica e das mudanças climáticas. Em outra sala, que tem as pessoas como tema, o debate será basicamente sobre saneamento e saúde”.

Os outros quatro temas são: Desenvolvimento, Ambientes Urbanos, Ecossistemas e Finanças.

Kimura destaca ainda o Business Day (Dia de Negócios) como exemplo da participação diversificada no fórum.

“É um evento para troca de experiências de inovação entre empresas – desde as grandes corporações até empresas de pequeno e médio portes que mostrarão seus projetos para o melhor uso e preservação da água. Há espaço para aqueles projetos de tecnologia de baixo custo e de alcance social”.

Legado

Todo esse esforço para juntar ideias, propostas e sugestões vindas de fontes tão diversas vai resultar em relatório final, a ser publicado em agosto de 2018.

“O documento deverá conter o que nós chamamos de Implementation Road Map, que vai reunir as recomendações sobre tudo aquilo que deveria ser feito para a preservação e o bom uso da água, por quais organizações poderia ser feito e em que setores da sociedade”, diz o coordenador.

Essas recomendações surgirão do debate e da análise das centenas de propostas que serão recolhidas nas diversas instâncias do fórum.

Para conseguir que todas essas informações sejam consideradas e nenhuma delas se perca, a Universidade de Brasília (UnB) vai atuar com 100 bolsistas na coleta desses dados que irão depois para a NC/Dream Factory, a empresa oficial do fórum.

“Quando você reúne ideias e soluções oriundas de países e regiões diferentes você vai acabar encontrando complementaridade entre elas e às vezes sobreposição. Por exemplo, suponhamos o caso de um rio poluído em uma região metropolitana da América do Sul que surge na discussão e encontra o caso de outro rio poluído numa região agrícola da Ásia. São dois casos que podem ter diferenças e ao mesmo tempo problemas semelhantes, mas que podem vir a ter soluções em comum”, avalia Kimura.

Para ele, com a presença de representantes de diversas partes do planeta, o 8º Fórum Mundial da Água poderá, de algum modo, amplificar o alerta que vem sendo feito desde a criação do Conselho Mundial da Água, em 1996: “As pessoas precisam ser lembradas de que ninguém sobrevive sem água”.