sábado, 30 de setembro de 2017

As cifras da aniquilação da vida selvagem

A metade dos animais que em um dia povoaram a Terra desapareceram


O veado dos pampas ocupa hoje 1% de seu território original GERARDO CEBALLOS



O último pombo-passageiro (Ectopistes migratorius) morreu cativo no zoológico de Cincinnati (EUA) em 1914. Na prática, a ave que tinha sido a mais abundante do planeta estava havia anos em processo de extinção. Décadas antes, o passageiro nublava os céus da América do Norte em bandos de milhões. Mas chegaram os colonos, alteraram seu habitat e o caçaram até que somente restaram os pombos dos zoos. A história é velha, mas continua se repetindo. Um estudo mostra que hoje cerca de um terço dos vertebrados terrestres perdeu a maior parte dos exemplares que chegaram a ter. E esse é o prelúdio de sua extinção.


“Quando publicamos nossa pesquisa anterior sobre a sexta extinção em massa houve alguns que disseram que o ritmo de desaparecimento de espécies não era maciço”, disse o professor do Instituto de Ecologia da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) Gerardo Ceballos. Embora a gravidade de uma extinção média de duas espécies por ano desde 1900 possa ser questionável, Ceballos recorda que antes de uma espécie se extinguir “isso tem de acontecer com muitas populações locais” e seus bilhões de exemplares.

Para avaliar a intensidade da perda da biodiversidade, o ecologista mexicano, com colegas da Universidade Stanford, estudou desta vez não o número de espécies extintas ou em risco de extinção, mas a redução das populações das espécies ainda existentes. Para isso analisaram a situação de 27.600 espécies de vertebrados terrestres, entre aves, répteis, anfíbios e mamíferos. O ponto de partida é o ano 1900. Para muitas das espécies não há dados confiáveis daquela época (nem agora), de modo que o estudo, publicado na PNAS, se apoia na evolução da distribuição geográfica de cada espécie: que espaço ocupavam então e qual ocupam hoje.

Um terço das espécies (8.851) perdeu a maior parte de seu território original. Além disso, houve a extinção local de muitas populações e a redução da quantidade em quase todas as espécies. Estima-se que pelo menos a metade dos animais que existiram no passado desapareceu. Quanto aos mamíferos, dos quais há dados mais confiáveis, quase a metade das 177 espécies estudadas perdeu até 80% de sua área geográfica.

O caso do leão (Panthera leo) exemplifica o caminho para a extinção. Um animal que há alguns séculos era dono e senhor de amplas regiões do sul da Europa, Oriente Médio, sul da Ásia e todo o continente africano, hoje conta com uma exígua população em uma reserva indiana e apenas 7.000 exemplares em áreas muito dispersas ao sul do Saara. O pior é a velocidade de seu declínio: a população deste felino se reduziu 43% desde 1993, apenas um quarto de século.

“Um total de 30% das espécies que estão perdendo população é das que são chamadas de comuns. Vão de mais a menos comuns até que se tornem espécies muito raras a caminho da extinção”, comenta Ceballos. Pode ser que isso aconteça como com o pombo passageiro em suas últimas décadas ou ocorre hoje com os bisões europeus e até os americanos: “Se você tem 10 indivíduos vivos, a espécie não é considerada extinta. Mas se há 10 condores da Califórnia, já se perdeu a estrutura e a função que desempenhavam no ecossistema”, acrescenta.


Desmatamento está deixando sem espaço muitas espécies do sudeste asiático, como o gibão-cinza 


Do ponto de vista geográfico, o declínio de populações está se dando em todas as latitudes. Há um fato chamativo: embora o número de espécies em retrocesso seja maior nas zonas tropicais, nas áreas de clima temperado, onde há uma menor riqueza de espécies, o impacto qualitativo é maior.

Os fatores que estão por trás do declínio de tantas espécies são muitos: perda do habitat, superexploração, impacto das espécies invasoras, poluição e mudanças climáticas. Todos têm as atividades humanas por trás. No século XIX devia haver milhões de veados dos pampas (Ozotoceros bezoarticus) na América do Sul. Não se sabe a cifra, mas um indício de sua população é o dado de que entre 1860 e 1870 foram exportadas duas milhões de peles dos portos de Montevidéu e Buenos Aires. Hoje, existem apenas poucos milhares em zonas isoladas que representam 1% do território que ocupava. A razão? Primeiro a caça e depois a deterioração de seu habitat em favor das fazendas de gado.

Para Ceballos, o tempo para reverter a sexta grande extinção está acabando. “Tudo dependerá do que fizermos nos próximos 20 anos”, argumenta. No entanto, está otimista: “Da mesma forma que a retirada de Trump do Acordo de Paris contra as mudanças climáticas reativou a luta, percebo nas redes, entre as pessoas, em muitos, uma crescente conscientização sobre o valor da biodiversidade”, cometa. Se essa esperança não se concretizar em esforços coletivos, vai se tornar realidade o título do livro que o ecologista mexicano escreveu com seus colegas norte-americanos Anne Ehrlich e Paul Ehrlich, The Annihilation of Nature (A Aniquilação da Natureza).



quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Há microplástico nos alimentos, no sal, no ar e na água. Saiba como ele surge, mude hábitos e previna-se

Você pode não ver, mas ele está lá e não se sabe ainda quais implicações pode causar para a saúde humana


Que o plástico está presente em nosso cotidiano todo mundo sabe, é só olhar para celulares, roupas, computadores, embalagens de alimentos, potes de cosméticos, seringas médicas, equipamentos de engenharia, embalagens de remédios, sinalizadores de trânsito, enfeites, glitter... E essa lista poderia seguir por linhas e linhas.

Mas o que nem todo mundo imagina é que os microplásticos também estão presentes no ar que respiramos, em alimentos como no sal ou na cerveja e até na água que bebemos: cerca de 83% da água de torneira do mundo inteiro está contaminada com microplástico.

Da sola do sapato ao ar que respiramos, não há dúvidas, há plástico em todo canto. Ilhas se transformam em depósito de lixo plástico, assim como terrenos e calçadas. Em 2050, o oceano poderá conter mais peso em plásticos do que peixes. A dúvida é saber se estamos no Antropoceno (a Era da Humanidade) ou na Era do Plástico.

Mas é verdade que os diversos tipos de plástico têm nos libertado e ajudado de muitas formas. Entretanto, assim como há prós, há contras em relação à utilização desse material.

E os contras estão relacionados a problemas de saúde gerados na produção, no contato com o plástico no dia a dia e nas perdas para o ambiente, incluindo o caso de descarte incorreto, que acaba sendo uma das fontes de contaminação de lençóis freáticos, ar, plantas e animais.

Você não vê, mas ele está lá

E o perigo maior é quando o plástico se fragmenta em pequenos pedaços, formando microplástico, que é invisível a olho nu.

Tóxicos

O microplástico, quando presente no ambiente, atua como captador de poluentes orgânicos persistentes (POPs) altamente nocivos. Dentre esses poluentes estão os PCBs, os pesticidas organoclorados, o DDE e o nonifenol.

O POPs são tóxicos e estão diretamente ligados a disfunções hormonais, imunológicas, neurológicas e reprodutivas. Eles ficam durante muito tempo no ambiente e, uma vez ingeridos, têm a capacidade de se fixarem na gordura do corpo, no sangue e nos fluidos corporais de animais e humanos.

Cadeia Alimentar

Ingerir microplástico contaminado não é muito difícil, uma vez que, desde o final da II Guerra Mundial, eles já estão contaminando o ambiente e fazem parte da cadeia alimentar.

Na Indonésia, trabalhadores da pesca já estão consumindo mexilhões contendo microplástico em seus organismos. E não é somente na Indonésia, no Reino Unido e na Austrália os mexilhões também estão contaminados por microplástico. Quem come frutos do mar regularmente ingere cerca de 11 mil pedaços de microplástico por ano.

Bisfenóis

Os bisfenóis, utilizados em larga escala pela indústria, estão presentes em tintas, resinas, latas, embalagens e materiais de plástico em geral. Quando escapam para o ambiente, além da poluição visual e física que causam, há a poluição química. Uma vez no ambiente e em nossos corpos, o bisfenol se comporta como um disruptor endócrino, podendo causar esterilização em animais, problemas comportamentais, diminuição da população, entre outros.

Risco para a vida animal

Quando o microplástico contendo bisfenol vai parar no ambiente, ele pode causar reduções em populações de golfinhos, baleias, veados e furões, prejudicar o desenvolvimento de ovos de aves, causar deformidades sexuais em répteis e peixes, alterações na metamorfose de anfíbios e muitos outros danos.

Prejuízos à saúde humana

Os alimentos embalados por recipientes contendo bisfenol se contaminam e, ao alimentarmo-nos destes alimentos, ingerimos também o bisfenol, cujo consumo está, comprovadamente, associado a diabetes, síndrome dos ovários policísticos, cânceres, infertilidade, doenças cardíacas, fibromas uterinos, abortos, endometriose, déficit de atenção, entre muitas outras doenças.
Mas como ele vai para o ambiente?

Na lavagem das roupas


Parte significativa das roupas são compostas por fibras têxteis sintéticas de plástico; um exemplo é o próprio poliéster. Durante a lavagem de roupas, por meio do choque mecânico, o microplástico se desprende e acaba sendo enviado para esgotos, indo parar em corpos hídricos e no ambiente.


No ar


As mesmas fibras têxteis de plástico também vão parar no ar. Um estudo de 2015, realizado em Paris, na França, estimou que, a cada ano, cerca de três a dez toneladas de fibras plásticas atingem as superfícies das cidades. Uma das explicações é que apenas o atrito de um membro com o outro vestido por roupas de fibras têxteis sintéticas plásticas já seria o suficiente para dispersar o microplásticona atmosfera. Essa poeira de microplástico pode ser inalada, juntar-se ao vapor e ir parar na sua xícara de café e no seu prato de comida, por exemplo.


No atrito dos pneus


Os pneus de carros, caminhões e outros veículos são feitos de um tipo de plástico chamado estireno butadieno. Ao passarem pelas ruas, o atrito desses pneus com o asfalto gera emissão de 20 gramas de microplástico a cada 100 quilômetros percorridos. Para se ter uma ideia, na Noruega, é emitido um quilo de microplástico de pneu por ano por pessoa.


Tintas látex e acrílicas

Estudos mostraram que a tinta utilizada em casas, veículos terrestres e navios, desprende-se destes por meio de intempéries e vai parar no oceano, formando uma camada bloqueadora de microplástico na superfície oceânica.

A isto, podemos acrescentar as tintas látex e acrílicas utilizadas em artesanatos e os pincéis lavados nas pias.


Microesferas dos cosméticos



Sabonetes, cremes, pastas, géis e máscaras esfoliantes são um perigo para o ambiente. Esses produtos compõem microplástico de polietileno que, após o uso, é despejado diretamente pela torneira na rede de esgoto... Mesmo quando há estações de tratamento, muitas delas não estão aptas a realizarem a filtragem de partículas tão pequenas.

Nurdles




Nurdles são pequenas bolinhas plásticas utilizadas na manufatura de vários itens plásticos. Ao contrário dos resíduos plásticos que se decompõem até se tornarem microplástico, os nurdles são feitos já com um tamanho reduzido (cerca de 5 mm de diâmetro). Eles são a maneira mais econômica de transferir grandes quantidades de plástico para fabricantes de uso final do material em todo o mundo. O problema é que navios e trens despejam acidentalmente essas bolinhas em estradas ou no mar; ou a parte que sobra da produção não é tratada adequadamente. Se alguns milhares de nurdles caem no mar ou numa rodovia, é praticamente impossível fazer a limpeza. Em uma pesquisa realizada no início de 2017, foram encontrados nurdlesem 75% das praias do Reino Unido.

Material semelhante aos nurdles são os pellets, feitos da mesma maneira mas em formato cilíndrico. Os pellets vão parar no ambiente devido a perdas no transporte e contaminam corpos hídricos, solo e animais.

Descarte incorreto


Durante o ano, pelo menos oito milhões de toneladas de lixo de resíduos de plástico que foram descartados incorretamente vão parar nos oceanos, lagos e rios do mundo todo.

Esses descartes, se fossem encaminhados corretamente para a reciclagem, poderiam voltar para a cadeia energética, mas uma vez no oceano, fragmentam-se em microplástico e acabam entrando na cadeia alimentar, inclusive humana.

Cada canudo, sacola, tampa, rótulo, embalagem descartados incorretamente se quebrarão e formarão microplástico. O plástico não desaparece, só fica menor.

Canudinhos


Todos os dias, um bilhão de canudinhos são descartados diariamente. Só no Estados Unidos, meio milhão de canudinhos são jogados fora diariamente.

Quando vão parar no ambiente (mesmo quando descartados em aterros podem ser levados pelo vento), esses canudinhos, antes de virarem microplástico, acabam indo parar no organismo de animais, até nas narinas de tartarugas.

O que fazer?
  • O primeiro passo é diminuir o consumo de plástico na medida do possível.
  • Troque sua escova de dentes de plástico por uma de bambu.
  • No lugar de tecidos de fibra sintética, utilize algodão orgânico. Confira outras "Dicas para ter uma pegada ambientalmente correta com as suas roupas".
  • Quando comprar alimentos, cosméticos, e produtos em geral, prefira aqueles que venham em embalagens de vidro.
  • Reutilize! Pratique upcycle, uma maneira de reinventar objetos.
  • Tome cuidado com a reutilização de garrafinhas d'água, veja o porquê em nossa matéria "Perigos de reutilizar sua garrifinha de água" - utilize garrafas não descartáveis para transportar sua água.
  • Zere o consumo de itens de plástico supérfluos, como, por exemplo, canudinhos.
  • Pegue e dê carona. Cada carro a mais é sinônimo de mais microplástico no ar e na água.
  • Zere o consumo de cosméticos com esfoliantes sintéticos; substitua-os por receitas naturais. Confira 6 receitas de esfoliantes caseiros.
  • Repense seu consumo e o que você pode fazer para reduzir o plástico presente na sua vida.
  • Dê prioridade aos bioplásticos. Conheça o plástico verde, o plástico PLA e o plástico de amido.
  • Descarte corretamente e encaminhe para reciclagem. Confira quais são os postos de coleta mais próximos de sua residência. Confira também nossa matéria "O que é reciclagem e como ela surgiu?".
  • Conheça a New Plastics Economy. Tendo em vista que 95% do valor do plástico é perdido por mau uso, a iniciativa New Plastic Economy, aplicando os princípios da economia circular, visa reunir setores importantes do ramo do plástico para a repensar e reformular o futuro dos plásticos, começando pela embalagem.
  • Pressione empresas e governos para que garantam o retorno do plástico à cadeia de produção, afinal de contas, nem todo plástico reciclável destinado corretamente é efetivamente reciclado.
FONTE: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/67-dia-a-dia/5914-microplastico-microplastico-poluiasao-o-que-sao-microplasticos-microesferas-cosmeticos-nos-oceanos-no-mar.html

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Por que dezenas de leões marinhos estão aparecendo doentes - ou mortos - em praias da Califórnia

Leões marinhos estão aparecendo doentes OU mortos em praias californianas
Dezenas de leões marinhos têm adoecido - até a morte, em alguns casos - nas praias da Califórnia central nos últimos dois meses. E o inimigo está no próprio oceano.
"Tivemos muito trabalho", disse à BBC Mundo Shawn Johnson, diretor de ciência veterinária no Centro de Mamíferos Marinhos, em Sausalito, perto de San Francisco.
Sob a sua coordenação, os veterinários do centro dificilmente têm tempo para pausas. E o que os mantêm ocupados são os casos crescentes de envenenamento pela neurotoxina ácido domóico (toxina que age sobre o sistema nervoso, causando paralisias ou contraturas musculares).
O ácido domóico é produzido por certas algas marinhas, como as chamadas doumoi ou hanayanagi (Chondria armata), que são comumente ingeridas por peixes.
A toxina se acumula nos peixes e, ainda que seja inofensiva para eles, acaba impactando os mamíferos.
"Os mamíferos marinhos comem muitos peixes e (por consequência) ingerem grandes doses dessa toxina, que entram na corrente sanguínea e no cérebro", explica Johnson.
Também há registros de casos de intoxicação por ácido domóico em seres humanos. No Canadá, na década de 1980, um grupo de pessoas morreu após comer mexilhões contaminados.

Veterinários estão tentando reabilitar os leões marinhos que aparecem na costa californiana

Encontrar um leão marinho ou outro mamífero grande soltando baforadas ou tendo convulsões na areia da praia não deve ser uma cena fácil de compreender.
Mas, na Califórnia, a única esperança desses animais agonizantes é a de serem vistos por alguém que alerte os especialistas do centro veterinário em Sausalito.
Caso seja necessário, o animal é levado para lá, e uma equipe de veterinários e cientistas faz um diagnóstico do problema.
"No caso de envenenamento por ácido domóico, que causa convulsões, tentamos conter com medicação e com cuidados emergenciais", disse Johnson à BBC Mundo.
Especialistas dizem que ácido produzidos por algas entram na corrente sanguínea e cérebro dos animais


Aumento das temperaturas

Shawn Johnson indica que a floração dessas algas tóxicas ocorre em diferentes épocas do ano. Especialistas concordam que o aumento das algas tóxicas foi causado pela mudança climática e pelo aumento das temperaturas oceânicas.
Desde junho, cientistas do Centro de Mamíferos Marinhos trataram 89 animais, dos quais 82 eram leões marinhos.
A maioria apareceu na região das praias de San Luis Obispo, onde há uma grande concentração de algas.

Desde junho, cientistas do Centro de Mamíferos Marinhos trataram 89 animais, dos quais 82 eram leões marinhos

E praticamente todos os leões marinhos resgatados sofreram as temidas convulsões.
"O mais urgente é que o corpo expulse a toxina. Também ministramos ao animal uma medicação para proteger o cérebro. Essas convulsões podem causar lesões cerebrais permanentes", explica Johnson.
"Depois de tratar as convulsões por uma semana, começamos a estudar outros tratamentos e identificamos se há dano cerebral ou não."
Se o animal se recuperar, eles o devolvem ao oceano e colocam uma etiqueta de identificação para, caso apareça em outra região, saibam que esteve em um centro de reabilitação.
Dos 82 leões marinhos atendidos no centro, os veterinários conseguiram salvar 51.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Aquário brasileiro busca revolucionar a biologia marinha

Um dos mais respeitados biólogos do país realizou o sonho de fundar o maior aquário marinho da América do Sul. O trabalho já gera frutos para a ciência

Marcelo Szpilman é o fundador do AquaRio, o maior aquário marinho da América do Sul (Stefano Martini/Estúdio ABC)

Inaugurado há cerca de nove meses na zona portuária do Rio de Janeiro (RJ), o maior aquário marinho da América do Sul já recebeu mais de 1,1 milhão de pessoas. Erguer o colosso de 150 milhões de reais levou dez anos de planejamento focado em três pilares: educação, pesquisa e conscientização. Com capacidade para receber até 8 000 animais, de 350 espécies, o AquaRio é também um grande centro de pesquisa. Atualmente, 15 estudos inéditos de universidades brasileiras estão sendo realizados no local, inclusive sobre a proteção a espécies ameaçadas. “Só é possível convencer as pessoas a proteger aquilo que elas conhecem – e o aquário oferece a experiência completa, integrada à divulgação da ciência”, conta o fundador e diretor-presidente, o biólogo Marcelo Szpilman (CRBio 032176/02-D), 56 anos.


A relação de Szpilman com o mar sempre foi intensa: nasceu perto da praia, no bairro de Copacabana, e adorava pescar com o pai. Aos 11 anos, começou a mergulhar. Mas foi James Bond que o levou a seguir carreira de biólogo com o lançamento do filme 007: O Espião que me Amava (1977), devido à icônica cena em que o inglês confronta o antagonista com seu conhecimento de espécies de peixes.


O filme não só inspirou Szpilman a estudar biologia como também o fez querer causar um impacto similar na vida das pessoas. Esses dois sonhos foram seu norte desde cedo. Primeiro, ele começou escrevendo livros – ao todo, tem cinco obras renomadas publicadas sobre identificação de peixes e tubarões e é reconhecido como um dos maiores especialistas brasileiros nesse tema.

Hoje ele colhe os frutos do bom trabalho no AquaRio. “Meu sonho é captar cada vez mais jovens brasileiros para a ciência. A maioria nunca viu um aquário e agora tem à disposição um equipamento de nível internacional”, orgulha-se. Todos os dias, mais de 1 000 crianças, de escolas públicas e privadas, passam por ali. “O AquaRio pode proporcionar esse ‘clique’ que eu tive a outros jovens. Já recebi várias mensagens de pessoas que resolveram estudar biologia após uma visita ao aquário. É muito gratificante.”

Referência para a biologia



Com o perdão do trocadilho, Szpilman acredita que o AquaRio é um divisor de águas no Brasil. “Vamos criar um boom de aquários marinhos. Muitos já me contataram querendo fazer empreendimentos inspirados nele. E, mais do que isso, atualmente, 80% das pesquisas com animais marinhos feitas no mundo são realizadas em aquários”, relata. O próprio AquaRio, que é 100% privado, investe em pesquisas.

Um dos estudos realizados no AquaRio tem potencial para ser utilizado em curto prazo: trata-se de uma pesquisa para combater o branqueamento de corais. “O coral é um animal que vive em simbiose com as algas, que dão cor e nutrientes a ele. Com as mudanças climáticas e a elevação da temperatura dos oceanos, a alga morre. Sem a alga, o coral perde sua cor e também morre”, explica. A famosa Grande Barreira de Coral na Austrália, por exemplo, sofre com esse problema – dois terços dela estão comprometidos com branqueamento de coral. Para reverter isso, a pesquisa conduzida no aquário do Rio de Janeiro utiliza probióticos para melhorar a saúde das algas e dos corais, mesmo com elevação de temperatura. “É exatamente o que eu esperava do aquário: proporcionar pesquisa séria, relevante e inédita”, comemora.


Proteção aos tubarões



Sua admiração pelos tubarões e seu desejo de preservá-los foram os grandes motivadores para criar o AquaRio. O biólogo já mergulhou com quase todos os tubarões do mundo, especialmente com os tidos como mais perigosos. Para ele, o maior predador dos mares é outro: o ser humano. “Eu queria desmitificar a noção de que os tubarões são feras assassinas. Mas, para isso, sabia que teria que fazer com que as pessoas tivessem contato mais próximo com ele. Por isso, optei por um aquário”, fala.

Com o AquaRio, seu poder de divulgar ciência – antes, por meio de livros e palestras – foi amplificado. “Agora consigo fazer com que as pessoas entendam a importância de preservar o ecossistema como um todo. Os tubarões matam, no máximo, de três a cinco pessoas por ano, e na maioria das vezes é acidental. Por outro lado, a humanidade mata de 100 a 150 milhões de tubarões todos os anos de forma cruel, por meio da pesca ilegal de barbatanas. Cerca de 120 países participam dessa atividade vergonhosa e totalmente insustentável, incluindo o Brasil. Ao capturarem um tubarão, as embarcações ilegais cortam as nadadeiras e devolvem o animal vivo ao mar, incapaz de nadar”, relata.

O motivo: o tráfico de barbatanas movimenta muito dinheiro. “Enquanto 1 quilo de carne de tubarão vale 1 dólar, 1 quilo de barbatana vale 100 dólares. Existe uma demanda extraordinária por elas, especialmente na China. Lá, a sopa de barbatana é um símbolo de status, e muitos chineses, cerca de 300 milhões, entraram na classe média querendo consumi-la”, explica.


Outro agravante pesa contra a proteção dos tubarões: eles não têm tanto apelo para as pessoas como pandas ou tigres. No entanto, no aquário, Szpilman consegue apresentar o animal sob outro prisma. “Ele é o grande carniceiro dos oceanos e consome outros animais em decomposição. Sem ele, os cadáveres só seriam consumidos por microbactérias e microrganismos, causando um problema de saúde pública. Além disso, sem tubarões, a população de outras espécies aumenta, o que causa desequilíbrio ecológico.”

Atualmente, o AquaRio já estuda a reprodução em cativeiro de tubarões, cavalos-marinhos, arraias e outras espécies marinhas, incluindo as ameaçadas. 

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

VIII EREBIO RJ/ES – PROGRAMAÇÃO E LOCAIS DAS ATIVIDADES

VIII EREBIO RJ/ES – ENCONTRO REGIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA RJ/ES


Aqui também tem currículo! Com a palavra, os professores de Ciências e Biologia

11, 12 e 13 de setembro de 2017
Unirio, UFRJ (Praia Vermelha) e Instituto Benjamin Constant

PROGRAMAÇÃO E LOCAIS DAS ATIVIDADES


SEGUNDA-FEIRA DIA 11/09/2017




As inscrições continuam abertas antes e durante o evento!!

Para ver toda a programação do evento, inscrições e mais informações acesse o link:  http://www.sbenbio.org.br/regional2/erebio_programacao.html

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A conversa das plantas

Segundo Peter Wohlleben, árvores são seres sociais que exibem linguagem, memória e cuidam de suas crias

Para o alemão Peter Wohlleben, autor de 'A vida secreta das árvores', uma caminhada atenta pela floresta tem muito a nos ensinar. (Patrick Pleul/AFP)


Árvores fazem amizades, unem-se em casais, cuidam e educam seus filhos. Para o alemão Peter Wohlleben, as plantas, essas criaturas altamente sociáveis, são dotadas de linguagem, memória e inteligência. As novidades têm cativado o público em todo o mundo desde que esse engenheiro florestal publicou o livro A vida secreta das árvores, no fim de 2016.

Faça uma incursão virtual por essa “vida secreta das árvores” e descubra algumas incríveis curiosidades  (clique e descubra)

O título, best-seller na Alemanha e nos Estados Unidos, foi lançado no último mês no Brasil e, em suas páginas, Wohlleben, que trabalha como guarda florestal promovendo excursões pelos bosques da região de Eifel, no Oeste da Alemanha, há vinte anos, resolveu retirar os jargões científicos das últimas descobertas da biologia. Substituiu termos como “comunicação química” por “conversa”, ou “rede de transmissão de sinais eletroquímicos”, pelo mais simples “internet das árvores”.

“Não gosto de escrever, mas achei que era importante transmitir essas ideias de uma maneira que todos pudessem entender”, disse Wohlleben à VEJA. “Preferi ‘humanizar’ o assunto pois, há pelo menos trinta anos, sabemos que as plantas não são robôs autômatos que apenas respondem automaticamente a estímulos. Elas conseguem não só expressar muitas coisas, como perceber o mundo a seu redor, tirar conclusões e estabelecer estratégias para sobreviver. É um tipo de inteligência diferente da animal.”

Para o autor, que vive em uma casa construída em meio a uma floresta no município de Hümmel, a notícia mais importante que os ciência trouxe com as pesquisas em biologia é que as árvores são criaturas sociais. “Temos a tendência a enxergar a natureza como uma grande competição, mas o universo das plantas é construído com base no apoio e auxílio ao próximo. Esses seres estão sempre interessados no social, pois sabem que, assim, criam sistema mais estável e saudável para todos viverem — e isso inclui os humanos. Acredito que caminhar pelas florestas e observar as árvores pode nos ensinar muito, principalmente nesse momento político tão instável por que o mundo passa.”