terça-feira, 14 de novembro de 2017

Poluição mata mais que guerra e violência

Estudo americano revela que cerca de nove milhões de mortes anuais podem ser atribuídas a doenças causadas pela contaminação do ar e da água.


 A poluição mata mais pessoas anualmente que todas as guerras e violência no mundo, tabaco, fome, desastres naturais, aids, tuberculose e malária, concluiu um estudo americano.

Uma em cada seis mortes prematuras no mundo registradas em 2015 – cerca de nove milhões – podem ser atribuídas a doenças por exposição tóxica, de acordo com um estudo divulgado na quinta-feira (19/10) pela revista científica The Lancet.

Segundo o artigo, a poluição do ar foi responsável por 6,5 milhões de mortes, seguida pela poluição da água, que matou aproximadamente 1,8 milhão de pessoas.

A estimativa de cerca de nove milhões de mortes prematuras por poluição ambiental, considerada conservadora pelos autores do estudo, é um valor 1,5 maior do que o número de pessoas mortas pelo tabagismo e três vezes o número de mortes por aids, tuberculose e malária juntos. A estatística supera também em 15 vezes o número de pessoas mortas em guerras ou outras formas de violência.

Segundo o estudo, 92% das mortes relacionadas à poluição ocorreram em países em desenvolvimento de baixa ou média renda. Uma em cada quatro mortes prematuras na Índia em 2015, ou cerca de 2,5 milhões, foram atribuídas à poluição. Na China, as causas ambientais foram o segundo maior motivo de óbitos, causando mais de 1,8 milhão de mortes prematuras, ou uma em cada cinco.

O estudo é a primeira tentativa de reunir dados sobre doenças e mortes causadas por todas as formas de poluição combinadas, do ar à água contaminada.

"Há muitos estudos sobre a poluição, mas o tema nunca foi alvo dos recursos ou nível de atenção de algo como a aids ou as alterações climáticas", diz o epidemiologista Philip Landrigan, diretor do departamento de saúde global da Faculdade de Medicina Mount Sinai, Nova York, e principal autor do relatório. "A poluição é um enorme problema que as pessoas não estão vendo porque estão olhando para as suas componentes espalhadas."

O relatório estima um prejuízo de 4,6 trilhões de dólares anuais – ou 6,2% da economia global - relacionado à poluição e às mortes causadas por ela.

"O que as pessoas não percebem é que a poluição prejudica as economias. As pessoas doentes ou mortas não podem contribuir para a economia. Precisam de cuidados", diz Richard Fuller, um dos autores do estudo e chefe da organização Pure Earth, que se dedica à despoluição no mundo em desenvolvimento. "Ministros das Finanças ainda seguem o mito de que, se não deixar a indústria poluir, não haverá desenvolvimento. Isso não é verdade."

De acordo com o estudo, o fardo financeiro atinge mais fortemente os países mais pobres. Os Estados de menor renda gastam em média 8,3% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para combater os danos causados pela poluição, enquanto os países desenvolvidos desembolsam 4,5%.




segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Mudanças climáticas ameaçam sobrevivência das abelhas

Grande parte das culturas alimentares do mundo dependem de abelhas e outros polinizadores




São Paulo – O declínio dramático das populações de abelhas nos últimos anos tem levado os cientistas a uma corrida global para identificar os principais responsáveis por essa perda.
Três quartos das culturas alimentares do mundo dependem de abelhas e outros polinizadores, o que significa que o sumiço delas põe em xeque a segurança alimentar além de  afetar o equilíbrio dos ecossistemas.
O dano infligido pelas mudanças climáticas aos polinizadores é uma preocupação particular para os cientistas. Uma nova pesquisa, desenvolvida pela Universidade Estadual da Flórida e colaboradores, ajuda a explicar o vínculo entre o clima global em mudança e declínio das populações de abelhas em todo o mundo.
No estudo, publicado na revista Ecology Letters, os pesquisadores descobriram que, assim como o sumiço das abelhas afeta a produção de alimentos, as mudanças climáticas afetam a disponibilidade de flores e alimentos para as próprias abelhas.
A equipe de pesquisa examinou três espécies de abelhas das montanhas rochosas do Colorado, nos EUA, e descobriram que à medida que o clima global muda, os ciclos sazonais delicadamente equilibrados também começam a mudar. Nas montanhas rochosas, isso significa a antecipação do degelo e o prolongamento da estação das flores.
De saída, essas mudanças podem parecer uma benção para as abelhas, afinal uma temporada de floração mais longa proveria mais alimento para as abelhas. No entanto, os pesquisadores descobriram que à medida que a neve derrete mais cedo e a temporada de floração se estende, o número de dias com pouca disponibilidade de flores aumenta, resultando em uma escassez geral de alimentos, que está relacionada ao declínio populacional das abelhas.
“Quando os pesquisadores pensam sobre os efeitos das flores nas abelhas, eles geralmente consideram a abundância como o fator mais importante, mas descobrimos que a distribuição das flores ao longo de uma temporada foi o mais importante para as abelhas”, disse Jane Ogilvie, principal autora do estudo em nota da Universidade.
“Quanto mais dias com boa disponibilidade de flores, mais abelhas podem forragear e as colônias podem crescer. Agora temos temporadas de florescências mais longas por causa da precipitação do derretimento de neve, mas a abundância floral não mudou em geral. Isso significa que temos mais dias em uma estação com pouca disponibilidade de flores”.
Segundo a pesquisadora, a descoberta contribui para a crescente evidência das graves consequências ecológicas das mudanças climáticas e lança novos desafios para a conservação. Os resultados sugerem, ainda, que os pesquisadores do tema devem considerar como as fontes alimentares de uma espécie podem estar respondendo às mudanças climáticas.
Além do fator climático, cientistas mundo a fora estudam outros fatores que podem estar interferindo nas colmeias e no comportamento das abelhas.
Os fatores mais pesquisados incluem o ácaro Varroa destructor, o fungo Nosema ceranae, alguns vírus, pesticidas, em especial os do grupo de neonicotinoides, além do desmatamento e fragmentação de matas e florestas.