O urso Zé Colmeia: atração local (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
Diagnosticado com um quadro crônico de neurose e stress, Zé Colmeia viveu um bom tempo à base de comprimidos de uma substância chamada haloperidol, usada por pessoas que sofrem de esquizofrenia e transtornos psicóticos. O medicamento, conhecido comercialmente como Haldol, fez-se necessário para reverter os traumas do urso-pardo de 16 anos, resgatado de um circo no interior do estado em 2007. Com comportamento maníaco, ele batia a cabeça nas paredes do recinto que ocupava no zoo, uma sequela do tempo em que passou enjaulado e sob tensão no picadeiro. Como resultado, a parte superior de seu crânio tinha pelos ralos e feridas que não cicatrizavam. Em tratamento desde outubro do ano passado, Zé Colmeia também passou a desfrutar um espaço mais digno. O recinto onde vive teve a piscina reformada e ganhou brinquedos como pneus e troncos, normalmente besuntados de mel para atrair sua atenção. Em 31 de maio, diante de uma impressionante melhora em seu estado de saúde, Zé Colmeia teve alta e deixou de tomar os medicamentos. Saudável e rechonchudo, hoje ele faz graça para o público e, diante da sua recuperação, virou uma espécie de símbolo do renascimento do Jardim Zoológico do Rio. Interditado pelo Ibama no início de 2016 e entregue à iniciativa privada em outubro, a instituição se transformará em um bioparque, onde os animais ocuparão amplos espaços, ambientes naturais das espécies serão recriados e as grades, abolidas. “Seremos uma referência no país e em toda a América Latina”, promete José Roberto Scheller, diretor do lugar, agora sob concessão do Grupo Cataratas.

Em sintonia com os mais avançados conceitos de zoo no mundo, o projeto da empresa, de origem paranaense e atualmente sediada no Rio, chama atenção pela ambição. O grupo, sócio do AquaRio e gestor do Parque Nacional do Iguaçu, do serviço Paineiras-Corcovado e do EcoNoronha, em Fernando de Noronha, não planeja apenas reformar o zoológico septuagenário, instalado na Quinta da Boa Vista. A ideia é pôr as instalações abaixo, mantendo apenas o majestoso portão, a alameda principal ornada com palmeiras-imperiais (ambos tombados) e as 1 300 árvores catalogadas no terreno de 122 000 metros quadrados. No lugar das estruturas gradeadas e dos cubículos decrépitos serão criados oito ambientes — de aves, animais domésticos (fazendinha), répteis, felinos e canídeos, primatas e ursos, espécies aquáticas, além de um espaço especial para elefantes e outro que reproduz uma savana africana. Entre as novas atrações planejadas, destacam-se o túnel de acrílico que serpenteará a área dos leões, de onde o visitante poderá olhar de perto os felinos, e uma piscina especial para os elefantes, que proporcionará uma visão inusitada dos animais nadando. No último dia 28, fiscais da Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente fizeram uma vistoria no complexo, trâmite necessário para o licenciamento das obras. A expectativa é que as obras comecem em agosto e sejam concluídas em dezoito meses. “O projeto contempla os anseios de uma instituição moderna que privilegia o bem-estar dos animais e proporciona uma experiência singular ao público”, diz Cláudio Hermes Maas, presidente da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (SZB), que já teve acesso aos planos.

Além da sensação de proximidade com os bichos em ambientes que recriam seus hábitats, o novo RioZoo prevê atrações extras. Logo na entrada, será possível caminhar em meio a 500 aves, em um viveirão de 3 000 metros quadrados protegido por uma tela a 10 metros de altura — se desejar, o visitante poderá adicionar um pouco de aventura à experiência e cruzar o local em um circuito de arvorismo. Na área de savana, que substituirá a atual Passarela da Fauna, o público terá a chance de fazer um safári fluvial em um rio artificial com 400 metros de extensão percorrido por barcos. O setor abrigará espécies como zebras, gnus e girafas — essas últimas, aliás, poderão ser alimentadas pelos visitantes. Em quase todos os novos setores, os percursos incluirão trechos subterrâneos com aquários dedicados a animais como hipopótamos, leões-marinhos, pinguins e tartarugas. Tudo afinado com a tendência batizada de enclausuramento inverso, em que os bichos usufruem a maior parte do espaço disponível e são separados do público por barreiras naturais como fossos e painéis de vidro e acrílico de alta resistência. Programada para ser feita em etapas, a obra não fechará o zoo. O contrato de concessão assinado entre a prefeitura e o Grupo Cataratas, ancorado em um investimento de 65 milhões de reais nos primeiros 24 meses, chegou a ser suspenso por uma liminar no ano passado. Entretanto, em março, a Justiça julgou o mérito do recurso e manteve a concessão. “Não alteramos em nada os planos por causa dessa questão, tanto que vamos investir 15 milhões de reais a mais do que o previsto para esses dois anos”, afirma Bruno Marques, diretor-presidente do grupo.

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